sexta-feira, 6 de maio de 2011

Duas mães muitos sofredoras

Na Literatura, arte que trabalha com as emoções humanas, duas mães ganham espaço em duas obras do século XIX.

O político e austero José de Alencar, no ano de 1859, lança sua peça "Mãe", na qual a protagonista Joana faz todos os sacrifícios possíveis e impossíveis para conservar a felicidade do filho que não sabe da condição escrava da mãe. Joana é a típica mulher conformada com as situações que a vida lhe impõe, primeiro na condição de escrava que a leva a desfazer-se do filho e conservar-se na posição de serviçal para poder aproximar-se dele e sentir sua dor diminuir. Não é de se espantar o enredo conformista, já que Alencar era escravocrata e conservador. Ele não possuía arroubos abolicionistas que poderiam transformar a trama de "Mãe" num grito pela liberdade e pela justiça final, na qual mãe escrava e filho livre viveriam felizes para sempre. A solução para que o filho ficasse bem e a mãe demonstrasse seu grande amor, foi a doação final, a morte de Joana em sacrifício do filho.

Alguns anos mais tarde, Machado de Assis escreveria um conto de título enigmático..."Pai contra Mãe". Mais uma vez temos uma mãe escrava que luta pela vida do filho. Ao opor a mãe negra e o pai branco, Machado de Assis constrói um enredo crítico não só nas questões raciais, mas também na questão antropológica, pois, quando o pai tenta livrar sua consciência da morte do bebê escravo ainda no ventre da mãe, ele não se mostra arrependido pelo mal que fez, só tenta se livrar de qualquer culpa, como um criminoso que não se arrepende pelas vítimas, mas sim, pelo castigo que lhe será destinado.

A mãe escrava, no conto de Machado de Assis, aparece apenas na cena final, mas sua dor parece que transcende o papel, tão forte e tão doída; a dor de perder o filho.

Quanto valia a vida do pequeno escravo? para a mãe era tudo que importava.

Machado de Assis fugiu aos estereótipos e gritou para a sociedade sua revolta com estas situações opressoras. Mestre, fez isso através da palavra.

No Romantismo ou no Realismo, ser mãe é padecer no paraíso.