domingo, 6 de março de 2011

Minha Prima Raquel - Daphne Du Maurier

"Há mulhres, Philip, até mesmo mulheres bondosas, que, sem terem qualquer culpa, atraem a desgraça. Transformam em tragédia tudo que tocam". A enigmática frase de Nick Kendall ao afilhado Philip, deixa claro o tom de dúvida e suspense que cerca o romance "Minha Prima Raquel", da inglesa Daphne Du Maurier.
No sul da Inglaterra, especificamente nos campos da Cornualha, vive Ambrose Ashley, um solteiro convicto, filho de uma tradicional família rica. Vivendo sozinho na propriedade com seu primo Philip, vinte anos mais novo e criado como seu filho, Ambrose tem uma vida tranquila que muda completamente devido a um problema de saúde que o faz viajar durante o inverno para terras do continente onde o clima não o desfavoreça tanto como fazia o gelado inverno inglês. Nas duas primeiras viagens nada acontece que tire Ambrose do seu casulo, mas durante a terceira viagem, na cidade de Florença, na Itália, ele conhece Raquel, uma viúva italiana de ascendência inglesa (era prima de Ambrose). Seu sobrinho Philip e seu grande amigo Nick Kendall ficam surpresos ao receberem a notícia do casamento repentino do solteirão convicto com a viúva italiana. Mais surpresos ainda eles ficam ao receberem cartas estranhas, nas quais Ambrose escreve palavras desesperadas ao primo Philip, acusando Raquel de ser "o seu tormento".
Quando Philip chega à Florença já é tarde demais. A Vila na qual Ambrose vivia está vazia, Ambrose morrera, segundo os médicos italianos a doença que lhe tirou a vida foi um tumor no cérebro que causou uma febre violenta. Raquel, sua esposa, saíra de Florença um dia após a morte do marido. Com o coração ferido pela perda do seu protetor, Philip, agora Mr. Ashley, jura vingar-se da mulher que acredita ser a acusadora dos males que levaram Ambrose à morte. A imagem da odiosa e persuasiva mulher faz com que Philip sinta grande repulsa e tenha cada vez mais certeza de que Raquel é culpada por toda a tristeza que caía sobre a casa Ashley. Esta ideia fica ainda mais forte quando o jovem conhece Rainaldi, italiano que serve como conselheiro da viúva Raquel Ashley. Philip odeia o italiano desde o primeiro momento e pensa ser afortunado se nunca mais vier a ver o senhor Rainaldi.
Ao voltar para a Inglaterra, Philip sente-se cada vez mais parecido com o primo Ambrose e não se conforma com sua morte em terras distantes. Nem mesmo as colocações do padrinho Kendall; que dizia ser muito pertinente a opinião dos médicos italianos, já que o pai de Ambrose também morrera vítima de um tumor cerebral; faz com que o coração de Philip sinta-se mais tranquilo quanto ao tipo de tratamento que Ambrose teve na Itália.
Ao receber a notícia de que a prima Raquel viria visitar a casa do falecido marido na Cornualha, Philip resolve tratá-la de uma forma grosseira, para que ela percebesse todo o mal e a mágoa que causara àquela casa.
A presença de Raquel, porém, desarma o jovem inglês, que percebe que odiara por todos aqueles dias uma mulher que não existia, já que Raquel não tinha a aparência nem o comportamento de uma mulher dissimulada, capaz de fazer mal ao marido.
Aos poucos, a convivência vai matando todas as desconfianças que preenchiam o coração de Philip Ashley e seu ódio se trasnforma em amor.
Mas por trás do doce encanto de Raquel escondia-se algum mistério e esta áurea de suspense, comum na obra de Daphne Du Maurier, nunca abandona as páginas do romance.
O próprio Philip, nas primeiras páginas da sua narração, deixa claro o mistério, afirmando que nunca terá verdadeira certeza sobre a culpa ou inocência de Raquel, fato que o atormentará mesmo que ele viva séculos.
A imagem do enforcado Tom Jenkyn, que um dia Ambrose levara o pequeno primo para ver, exemplifica muito bem a condição de incerteza na qual o jovem Philip viverá. Quando Philip pede desculpas ao falecido Tom, por ter-lhe atirado uma pedra no corpo que balançava naquela forca, o pessimismo e a infelicidade do jovem ficam muito claros, pois ele afirma que, se tivesse olhado para trás, para o homem condenado e enforcado, teria visto a sua própria sombra balouçando-se em suas correntes. Talvez isso justifique as frases que iniciam e finalizam o romance: "Nos velhos tempos, era costume enforcarem-se os homens na Encruzilhada. Hoje não é mais assim."

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