sexta-feira, 25 de junho de 2010

Os Noivos - Alessandro Manzoni


A primeira versão desta grandiosa obra foi escrita por Alessandro Manzoni entre 1821 e 1823 e tinha por título "Fermo e Lúcia", nome dos dois protagonistas. Mais tarde, Fermo se tornará Renzo e Manzoni recomeça a trabalhar a obra em 1824, terminando a segunda versão em 1827. Apenas em 1840, a versão revisada com a "verdadeira língua italiana", (segundo o escritor, era o dialeto falado em Florença), é publicada. O título original do romance é modificado, tornando-se então, "I Promessi Sposi", ou "Os Noivos" na tradução brasileira.
O Romance é considerado um legítimo representante do Romantismo histórico italiano. Na Lombardia, entre 1628 e 1632, dois amantes vivem muito sofrimento e dolorosas aventuras de todas as espécies para tentar se casar. Renzo e Lúcia, camponeses analfabetos, moram numa pequena vila e pretendem unir-se, mas são impedidos por um fidalgo devasso que nutre uma paixão pela noiva. A "epopeia do humildes" tem início quando o vigário local ne nega a realizar a cerimônia por medo de Dom Rodrigo, o homem mais poderoso da região, que tem poder inclusive, sobre a vida e a morte daqueles com quem se envolve.
Entre as dolorosas aventuras a que Lúcia é exposta, estão sua permanência num convento na cidade de Monza, que tem na Madre superior uma figura emblemática e de caráter duvidoso, estando unida aos mais crueis inimigos do casal. A pobre camponesa também é obrigada a passar um tempo presa no castelo do Innominato (aquele que não se deve nomear), um assassino cruel que se converte depois de conhecer a jovem prisioneira. A figura do Innominato é real e no romance, Alessandro Manzoni une ficção à realidade.
Já Renzo, vive o drama de sair da sua terra e percorrer outros caminhos, que desencadearão crises dos valores passados e a perda da identidade e das raízes. Ele faz promessas libertárias ao ver o sofrimento da população esquecida pela nobreza e vive uma revolução interna que transforma sua luta em algo bem mais intenso do que a simples procura pela amada.
Quando tudo parecia perdido, vem a peste (que confirma o caráter histórico do romance) e elimina o inimigo fidalgo, fazendo com que seja possível a união tão desejada por Renzo e Lúcia.
Apesar da trama tipicamente romântica, o romance não é uma representação literária do amor. Ao contrário, Manzoni concentra-se nos episódios sociais, de natureza historiográfica, analisando-os e dissertando sobre eles.
Embora tenham pouca instrução, os protagonistas tentam decifrar a história, Lúcia através da sua fé cega na Providência e Renzo tirando ensinamentos das suas desventuras.
Estão presentes também no romance, características históricas como a forte influência da Igreja sobre a população europeia e o domínio exercido pela nobreza sobre a plebe.
Alessandro Manzoni agiu como um típico romântico ao escrever sua obra prima voltando-se para o passado para buscar inspiração, mas conseguiu distinguir "Os Noivos" dos romances de cavalaria ou de outras obras típicas da época que apresentavam o amor como figura principal do enredo.


domingo, 20 de junho de 2010

O Missionário - Inglês de Sousa

A sensualidade já estava dentro do futuro Padre Antônio de Moraes desde pequeno. Quando corria pelos campos da fazenda paterna comendo goiabas verdes e saciando-se dos prazeres que a natureza proporciona, ele seguia seus instintos e se aproximava do comportamento selvagem e livre. O romance "O Missionário" de Inglês de Sousa, publicado no ano de 1891, é um exemplar da tese determinista, que durante o Naturalismo, defendeu a ideia de que o homem é condicionado pela hereditariedade e pelo seu ambiente físico e social.
Sendo Antônio de Moraes filho de um fazendeiro depravado e estando cercado por todos os tipos de vícios, o padrinho busca salvá-lo daquela sina e o leva para o seminário, onde seus instintos naturais foram podados na sua forma visívil, enquanto permaneciam vivos na personalidade do seminarista, que passava noites inteiras lutando para controlar suas paixões.
Ao se deparar com uma paróquia mediocre na qual a população estava acostumada com um velho padre devasso recém falecido, Padre Antônio de Moraes procura mudar a filosofia local, instituindo uma forma séria e casta de dirigir a Igreja. Sempre com pensamentos de grandeza social, se aventura na "Missão" à Mundurucânia, para dedicar-se à catequese dos canibais selvagens mundurucus. Junto de si, leva o sacristão Macário, figura muitas vezes risível, que, com seu "macavelismo" acredita ter grande influência sobre o novo padre.
Ao ser resgatado por um velho índio catequizado, padre Antônio de Moraes se depara com a neta Clarinha, mameluca filha ilegítima do Padre João da Mata, outro exemplar de vigário devasso da região.
Ao deparar-se com o local propício e tendo a tentação perto de si, Padre Antônio não resiste e libera seus instintos carnais vivendo um intenso caso com Clarinha. A decadência moral de Padre Antônio de Moraes se dá de forma lenta, mas explode de forma incontrolável.
O vigário moço percebe então, que não adianta ir contra os instintos e o sangue paterno que lhe corria nas veias. Ele usa esta convicção para tornar menor seu pecado, colocando a responsabilidade na genética e no meio social que possibilitou a exposição de um homem que resitira até aquele momento, a uma situação impossível de resistência.
O título do romance é irônico, já que a tal "missão" nunca acontecera e padre Antônio vivera os três meses do sítio do velho índio, vivendo paixões desenfreadas pela jovem Clarinha a sombra dos cacaueiros.
Exemplar legítimo do Naturalismo, o romance "O Missionário" colocou o nome de Inglês de Sousa definitivamente no mundo literário e, embora seja considerado por muitos um romance menor, ele tem suas grandezas e seus méritos.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Literatura de luto - Morre José Saramago.


No dia 18 de junho de 2010 o mundo perdeu o grande escritor português José Saramago. Aos 87 anos, termina a trajetória ilustre do filho de camponeses sem terra que nasceu em Azinhaga no dia 16 de novembro de 1922.
José Saramago tornou-se imortal pela sua obra, com romances intensos e sua forma particular de escrever.
Todos se lembrarão do grande homem que ele foi ao ler "Ensaio sobre a cegueira", "Todos os nomes", entre tantos outros livros que trouxeram prestígio e lhe garantiram um lugar muito especial na Literatura mundial.
No romance "As intermitências da Morte", ele apresenta uma situação muito diferente e inusitada; a morte deixa de trabalhar por algum tempo, para que os homens percebam a sua importância de deixem de blasfemar contra esta certeza que todos têm.
A missão de Saramago foi deixar ao mundo um legado de ideias que devem ser transmitidas por gerações futuras e que levarão seu nome a permanecer vivo através de seus livros e de seus pensamentos.
No ano de 1998 Saramago ganhou o Nobel de Literatura.
O Blog "Devaneios Literários" sente muitoa perda deste grande escritor.


sexta-feira, 11 de junho de 2010

Alessandro Manzoni




Alessandro Manzoni nasceu em Milão, Itália, no dia 7 de março de 1785, seu nome completo é Alessandro Franceso Tommaso Manzoni. Descendente da nobreza rural por meio de seu pai, Pietro Manzoni. Com a viagem da mãe Giulia Beccaria para Paris, Alessandro passa a viver num colégio até os dezesseis anos, quando se inseriu no ambiente cultural milanês, tendo contato com poetas italianos. Em 1805, vai ao encontro da mãe em Paris. Aí se encontra com Claude Fauriel – o filólogo que promoveu a cultura romântica na França –, que se torna para ele um importante ponto de referência. Voltando a Milão, casa-se com Enrichetta Blondel, em 1808, de rito calvinista. Quando em 1810 assiste com a esposa aos festejos pelo casamento de Napoleão, é separado dela pela multidão e os dois perdem-se de vista . Em pânico, refugiou-se na igreja de são Rocco, onde encontrou consolo. Nesse episódio o escritor coloca o início da sua conversão à fé católica.
Alessandro Manzoni preocupou-se com temas religiosos e tendo colocado a religião católica como "ponto de partida e término de todas as questões morais", teve como fonte de motivação dois grandes temas: a própria religião e a História.
Em 1812 compõe os quatro primeiros Hinos Sacros (ao todo foram doze). No ano seguinte inicia a redação de O conde de Carmagnola. Nas duas décadas seguintes escreve, entre outros, Pentecostes, Observações sobre a moral católica, Adelchi, as odes Março de 1821 e Cinco de maio, Postille al vocabolario della crusca.
Em 1827 publica sua obra-prima, o romance "Os Noivos" que inicialmente se chamava Fermo e Lúcia, embora segunda edição definitiva só tenha acontecido em 1840.
Este período da vida de Alessandro Manzoni é marcado pelas perdas da mãe, da esposa e de alguns dos seus filhos.
Entre 1848 e 1850 conheceu e se tornou amigo de filósofo católico Antonio Rosmini, que se tornou seu guia espiritual. Em 1860 é nomeado Senador do Reino, ele vivia há quatro anos na Toscana.
Dois anos depois, participa da Comissão para a unificação da língua, e em 1866 apresenta o relatório Sobre a unidade da língua e dos meios para difundi-la. Alessandro Manzoni dedicou seus derradeiros anos à filologia, tendo como objeto a "questão da língua", debatida na Itália desde o Renascimento, em que preconiza o emprego do toscano, como língua oficial. Desta forma, Manzoni deu sua contribuição à unificação italiana, por haver percebido que a uniformização da língua seria um elemento importante para a realização da unidade política italiana, que viria pouco depois.
No dia 22 de maio de 1973, Alessandro Manzoni morreu na sua cidade de Milão.






sábado, 5 de junho de 2010

Ressurreição - Machado de Assis


"Ressurreição" é o primeiro romance do mestre Machado de Assis. Publicado no ano de 1972, está incluído entre a obra romântica do autor.
Sendo a primeira experiência de Machado de Assis com o gênero que o consagraria anos depois na fase Realista, o livro é, segundo o crítico Afrânio Coutinho, o livro é "o mais moderno dos seus romances iniciais. Nele encontram-se alguns dos traços definitivos de sua fisionomia: a penetração psicológica, a preocupação da análise, o monólogo interior, o desenvolvimento alinear da intriga, a narrativa complexa".
Em “Ressurreição” encontramos já definidas algumas características definitivas do autor, como a intimidade com o leitor, o pessimismo e o enredo simples que condensa uma carga psicológica intensa.
Doutor Félix é um solteirão de 36 anos que tem um coração sepultado por não acreditar no amor. Ele sente uma grande possibilidade de ressurreição para seu coração quando se apaixona pela viúva Lívia, uma bela mulher que tem um filho.
Desconfiado e inseguro dos sentimentos de Lívia, Doutor Félix vive atribulações no seu romance, não conseguindo alcançar a plenitude na vida emocional.
O desfecho do romance, ao contrário de muitas obras românticas, não é feliz e nem resulta na morte, pelo menos não morte física.
Conhecendo que a ressurreição do seu coração não fora possível, Felix termina seu relacionamento com Lívia e volta viver a solidão antiga.
Dez anos depois, Lívia continuava a amar o Doutor Félix, embora não tivesse perspectiva de futuro para com o amado e vivesse apenas para o bem estar do filho. Doutor Félix, por sua vez, não guarda mais vestígios da paixão antiga, que só era alimentada pela presença da viúva.
Escrito num período no qual o Romantismo já havia se estabelecido plenamente e os romances de costume estavam em voga, “Ressurreição” anuncia uma trama psicologicamente desenvolvida como se fazia já na Europa. Embora não seja um romance com características suficientes para ser classificado como “Psicológico”, “Ressurreição” anunciava um futuro promissor para Machado de Assis, futuro este que se consolidou nos contos e romances realistas.
No prefácio das duas primeiras edições (1872 e 1905) escreve Machado de Assis: “Não quis fazer romance de costumes; tentei o esboço de uma situação e o contraste de dois caracteres; com esses simples elementos busquei o interesse do livro.” O que sintetiza a busca do autor por um novo caminho.