segunda-feira, 31 de maio de 2010

Caio Fernando Abreu


Caio Fernando Loureiro de Abreu nasceu em Santiago do Boqueirão, no Rio Grande do Sul em 12 de setembro de 1948.
Mudou-se para Porto Alegre, em 1963, no mesmo ano, publicou seu primeiro conto, "O Príncipe Sapo", na revista Cláudia. No ano de 1964 começou a cursar Letras e Arte Dramática na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mas abadonou os cursos e decidiu se dedicar ao jornalismo. Em 1968 mudou-se para São Paulo após ser selecionado, em concurso nacional, para compor a primeira redação da revista Veja.
No ano seguinte, perseguido pela ditadura militar, refugia-se na chácara da escritora Hilda Hilst,em Campinas, São Paulo. A partir daí passa a levar uma vida errante no Brasil e no exterior. Viaja pela Europa de mochila nas costas e até considera a possibilidade de viver do artesanato em Ipanema.
Em 1974 Caio Fernando Abreu retornou a Porto Alegre, para no ano de 1983 mudar-se para o Rio de Janeiro e em 1985 para São Paulo.
Voltando de uma viagem que havia feito à França no ano de 1994 a pedido da casa dos Escritores Estrangeiros, o escritor descobre que é portador do vírus HIV.
Dois anos depois, precisamente em 25 de fevereiro de 1996, Caio Fernando Abreu faleceu em Porto Alegre, onde voltara a viver com os pais.
Caio Fernando Abreu é considerado um expoente da Literatura moderna, com um estilo peculiar que apresenta angustiantes temas como a solidão, o medo e a morte. Consagrou-se como um perfeito contista. O Livro "Morangos Mofados" apresenta alguns dos melhores contos da Literatura brasileira, como "Aqueles Dois", por exemplo. Ele é considerado o primeiro escritor brasileiro a tratar da AIDS em seus livros, além de trabalhar o homossexualismo na maioria dos contos do livro "Morangos Mofados".
Hoje, Caio Fernando Abreu é aplaudido pela crítica, estando os contos "Aqueles dois" e "Além do ponto" entre os melhores da Literatura brasileira.


Algumas das suas principais obras são:

Inventário do Irremediável, contos.
Limite Branco, romance.
O Ovo Apunhalado, contos.
Pedras de Calcutá, contos.
Morangos Mofados, contos.
Triângulo das Águas, novelas.
As Frangas, novela infanto-juvenil.
Os Dragões não conhecem o Paraíso, contos
A Maldição do Vale Negro, peça teatral.
Onde andará Dulce Veiga?romance.
Ovelhas Negras, contos.
Mel & Girassóis, antologia.
Estranhos Estrangeiros, contos.
Pequenas Epifanias, crônicas.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Marguarite Yourcenar


Marguarite Yourcenar (anagrama de seu sobrenome verdadeiro, Crayencour) nasceu em Bruxelas, no dia 08 de junho de 1903. A futura escritora foi educada pelo pai, já que a mãe havia falecido no parto e desde pequena, interessava-se pela cultura grega. Aprendeu várias línguas da Antiguidade e decicou tornar-se arqueóloga. na Itália, na China, no Japão, continuou o aprendizado das velhas civilizações, fixando os cenários de seus futuros livros. Além dos cenários, a própria ideia mestra de muitos deles, escritos dezemas de anos depois, datam da sua juventude.
Muitos jovem, precisamente aos dezessete anos, escreveu sua primeira obra, um livro de poesias chamado "Le Jardin des chimères". Três anos mais tarde, foi publicado "Les Dieux ne sont pas morts". No ano de 1929 surge o primeiro sucesso da carreira de Marguerite Yourcenar: "Alexis ou o tratado do vão combate", que causou escândalo na época, pois, o tema era homossexualismo.
Outros romances e outras novelas viriam a seguir, entre eles, "La nouvelle Eurydice" de 1931 e "La mort conduit l'attelage" do mesmo ano. Em 1934 publica "Denário do sonho" e quatro anos depois, "Contos orientais". No ano de 1939 publica "Golpe de misericórdia". Além de romances e novelas, ela escreveu também ensaios, peças teatrais e memórias, além de traduzir obras de Virginia Woolf e Henry James.
Mas os dois maiores sucessos da carreira de Marguerite Yourcenar foram, sem dúvida, "Memórias de Adriano" do ano de 1951 e "A obra em negro" de 1968. Estes dois romances lhe valeram, respectivamente, os prêmios Hélène -Varesco e Fémina.
A escritora se recusa a definir sua obra-prima "Memórias de Adriano" como um romance apenas histórico. Ela declarou que desconfia do romance histórico, já que sempre que escrevemos, interpretamos.
Embora a Academia Francesa de Letras tenha sido fundada em 1635, foi no ano de 1980 que a primeira mulher ingressou nesta entidade. Esta mulher foi Marguerite Yourcenar, que os franceses chamam de "a grande dama da literatura". Na ocasião, ela lembrou as muitas mulheres que durante todos estes séculos, mereceram esta honraria, mas não receberam.
Marguerite Yourcenar morreu em 1987, perto da fronteira entre os Estados Unidos e o Canadá, onde havia se recolhido há alguns anos e vivia uma vida isolada em contato com as coisas da natureza.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Inglês de Sousa


Na cidade de Óbidos, localizada no estado do Pará, nasceu Herculano Marcos Inglês de Sousa no dia 28 de dezembro no ano de 1853.
Quando contava com onze anos, o futuro escritor mudou-se para o Maranhão, onde, no Colégio de Sotero dos Reis, completou os primeiros estudos iniciados no Pará.
No ano de 1867, foi matriculado no Colégio Pereseverança do Rio de Janeiro para fazer os estudos secundários. Em 1875, enquanto estudava Direito na Faculdade do Recife, escreveu o romance "O Cauculista", sob o pseudônimo de Luís Dolzani. O romance de estreia só foi publicado no ano seguinte em Santos, no estado de São Paulo.
Inglês de Sousa terminou o curso de Direito na cidade de São Paulo, para onde se transferiu em 1876, ano no qual publicou, ainda sob pseudônimo, o romance "História de um pescador". No ano seguinte, publicou "O Coronel Sangrado".
Em 1878 dedicou-se ao jornalismo e à política, fundou em Santos O Diário de Santos e a Tribuna Liberal. Ingressou no Partido Liberal.
Em 1882 elegeu-se presidente do Espírito Santo, depois de ter sido presidente do Sergipe. Retornou a Santos e, abandonou a política, passando a se dedicar à advocacia.
No ano de 1891 publicou "O Missionário", escrito em 1888. Em 1892 transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como professor de Direito. Foi neste mesmo ano que publicou o livro de contos "Contos Amazônicos".
Inglês de Sousa participou da fundação da Academia Brasileira de Letras e, dois anos depois, foi nomeado presidente do Instituto da Ordem dos Advogados e do 2º Congresso Jurídico Brasileiro.
No dia 06 de setembro de 1916, o escritor morreu no Rio de Janeiro.


domingo, 23 de maio de 2010

Castro Alves


Um dos maiores poetas brasileiros de todos os tempos, Castro Alves foi assunto de correspondências entre José de Alencar e Machado de Assis, que escreveu sobre ele: "Se se adivinha que a sua escola é a de Vítor Hugo, não é porque o copie servilmente, mas porque uma índole irmã levou-o a preferir o poeta das "Orientais" ao poeta das "Meditações".
Antônio Frederico de Castro Alves nasceu em 1847 na cidade de Curralinho (que hoje recebe seu nome) na Bahia. Estudou no Colégio Baiano, dirigido pelo famoso educador "Barão de Macaúbas". Aos 12 anos escreveu os primeiros versos. Matriculou-se na Faculdade de Direito de Recife, em 1864. No ano seguinte, obteve seu primeiro grande sucesso literário, ao recitar o poema "O Século", no auditório da faculdade. Data de então sua ligação com a atriz Eugênia Cãmara vinda de Portugal. Ela se tornou a musa inspiradora de muitos versos.
Transferiu-se para São Paulo no 3º ano do curso. Em 1868 sofreu um acidente, feriu o pé esquerdo com um tiro, e teve que amputar a perna. A saúde do poeta também era abalada pela tuberculose, doença que tirava a vida de muitos nos séculos passados.
Os poemas de inspiração social deram-lhe fama imediata. Conhecido como "O Poeta dos Escravos", lutou contra a opressão, a ignorância, o cativeiro, cantando a liberdade. Sob esta inspiração escreveu "Vozes d'África" e "Navio Negreiro" entre tantos outros.
Como todo romântico, cantou a natureza e o amor. Nos poemas de "Espumas Flutuantes" temos um sentimentalismo que difere dos demais românticos pelas descrições de uma paixão ardente, na qual a mulher raramente é idealizada e se apresenta de forma mais concreta.
Com Tobias Barreto, Castro Alves foi um dos fundadores da escola condoreira no Brasil. O poeta faleceu jovem e cantou a tristeza da morte prematura em vista de um futuro brilante no poema "Mocidade e Morte" com forte teor pessimista.
No dia 06 de julho de 1871, a cidade de Salvador via o ilustre filho da Bahia morrer, aos 24 anos.
Castro Alves é o patrono da Cadeira nº 7 da Academia Brasileira de Letras.
Sua obra é composta por:
Espumas flutuantes (1870)
Gonzaga ou a Revolução de Minas (1875)
A cachoeira de Paulo Afonso (1876)
Vozes d`África. Navio Negreiro (1880)
Os escravos, obra dividida em duas partes: 1. A cachoeira de Paulo Afonso; 2. Manuscritos de Stênio (1883).

sábado, 8 de maio de 2010

A obra de Érico Veríssimo - Parte 1

Introdução
O período de 1930 a 1945 registrou a estréia de alguns dos maiores nomes da literatura brasileira. Autores como José Lins do Rego, Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos, Jorge Amado e Érico Veríssimo produziram uma literatura de caráter construtivo, mais maduro, aproveitando as conquistas da geração de 1922 e sua prosa inovadora.
Um campo propício para a denúncia social surgia no país, devido as transformações vividas com a Revolução de 1930 e o conseqüente questionamento das tradicionais oligarquias, além dos efeitos da crise econômica mundial e os choques ideológicos que levaram a posições mais definidas e engajadas.
Na busca do homem brasileiro, o regionalismo ganha uma importância até então não alcançada na Literatura Brasileira, levando ao extremo as relações do personagem com o meio natural e social.
Merece grande destaque os escritores nordestinos que vivenciaram a passagem de um Nordeste medieval para uma nova realidade capitalista e imperialista.
Coube a Érico Veríssimo representar o Sul nas questões regionais. O escritor gaúcho iniciou a sua carreira com um livro de contos “Fantoches” e depois iniciou o “ciclo de Clarissa e Vasco”, com romances urbanos, com os dramas existenciais, a solidão e a falta de solidariedade humana. Esta fase da sua obra o tornou muito popular.
Com a trilogia “O Tempo e o Vento”, ele conta a história do Rio Grande do Sul desde o século XVIII até o governo Vargas. Desta fase, surgem personagens heróicos como Ana Terra e o Capitão Rodrigo.
Na terceira fase, o autor se dedica a temas atuais. Entre eles estão “O Senhor embaixador”, “O Prisioneiro” e “Incidente em Antares”.
O autor escreveu também livros infantis, literatura infanto-juvenil, viagens, contos e biografia. Foi também tradutor.
Em 2005 comemorou-se o centenário do nascimento de Érico Veríssimo e várias homenagens foram dedicadas a este grande autor que amava o Brasil e o Rio Grande do Sul e não deixou de cantar as belezas e as mazelas da sociedade na qual viveu.
O Tempo e o Vento
A primeira fase da obra de Érico Veríssimo é marcada pelo “ciclo de Clarissa e Vasco”. Muitos críticos acusam Érico Veríssimo de ser redundante ao utilizar os mesmos personagens em vários romances. Não se pode negar, porém, que os livros desta fase tornaram o autor muito popular e que nela estão dramas urbanos e personagens encantadores, que narram através da sua luta para sobreviver na sociedade os anseios e angústias dos leitores.
A segunda fase de Érico Veríssimo é muito elogiada pela crítica e é formada pela trilogia “O Tempo e o Vento”. O nome do romance é carregado de simbologia, já que o Tempo é a corrosão, a morte, passagem, destruição e o Vento é a repetição, continuidade, permanência.
O livro é dividido em:
- O Continente escrito entre os anos de 1949 a 1962. Tem a duração de cento e cinqüenta anos, iniciando com m episódio das missões jesuíticas em 1745 e encerrado com o fim do cerco ao sobrado dos Cambaras em 1895. Dele é extraído “ Um certo capitão Rodrigo”. “O Continente” traça as origens da sociedade Rio-Grandense.
- O Retrato por sua vez centraliza asa primeiras décadas do século XX retrata o momento no qual velhos oligarcas são substituídos por caudilhos ilustres, como o Dr. Rodrigo cambará.
- O arquipélago mostra a derrocada da família dirigente e também a decadência política dos estancieiros gaúchos. Também está presente a emergência social de novos grupos como os italianos e alemães, por exemplo.O romance abrange dois séculos e “O Retrato”e “O arquipélago” têm a duração de cinqüenta anos. Encerra-se com a queda de Getúlio Vargas em 1945 e o fim da dominação estancieira no Rio Grande do Sul.

A obra de Aldous Huxley

Todos os romances de Aldous Huxley merecem atenção e um estudo especial. Destacarei, porém, os seguintes:
De 1928 é “Contraponto”, romance incomum, saudado e criticado no mundo literário da época, em que faz uma ousada elaboração formal ao construir um romance dentro de um romance e adaptar a estrutura na "Suíte Número 2 em Si Menor" de Bach à narrativa em palavras. Nele, Aldous denuncia o que acredita ser a impossibilidade do amor, da comunicação e da arte na sociedade excessivamente racionalizada, cheio de sofisticação e materializada da Inglaterra de entre - guerras. A intelectualidade britânica é mordaz e implacavelmente dissecada - Huxley está se colocando ao lado de James Joyce, Virgínia Woolf e D. H. Lawrance, inovadores que recusam criticamente a sociedade em que vivem. O misticismo e a angústia intelectual do pós-guerra estão sendo substituídos pela reação desesperada a um mundo cada vez mais tecnicista e impessoal, e Aldous, fustigando as injustiças e a hipocrisia, anseia pela volta do homem aos princípios básicos da sua natureza. “Admirável Mundo Novo”, de 1932, é uma utopia na qual a fé no progresso científico e materialista é cruelmente ridicularizada: Aldous descreve em minúcias uma sociedade que resolveu o problema do excesso de população esmagando racionalmente qualquer individualidade. Outro ponto importante é o consumo. No livro, tudo gira em torno da questão do consumo, como hoje, onde vivemos atrás de marcas e etiquetas. O livro é muito bem aceito - talvez por alertar os leitores para um possível estado da sociedade futura, e se manteve conhecido através de sete décadas provavelmente por seu tom panfletário e porque quase todo mundo pode enxergar nele sustentação para suas próprias crenças. Foi saudado do na época por André Maurois como um "prognóstico pessimista, uma terrificante distopia". É um extraordinário romance, que deixa marcas indeléveis mesmo no leitor mais insensível. É, respeitado o ano de publicação, a mais trágica, profética e aterradora visão do mundo, de uma civilização escravizada pela máquina e dominada pela tecnologia. Uma sociedade onde as crianças são geradas em laboratórios e especialmente treinadas para desempenhar funções pré-determinadas no meio social programado. Um mundo em que foi abolida a família e onde não há lugar para os sentimentos e para o amor. “Sem Olhos em Gaza”, de 1936, em que o relato da história salta no tempo em vez de obedecer à cronologia tradicional - recurso pouco utilizado na época e que se destaca pela criatividade ou qualidade do conteúdo, deixa clara a influência do budismo e do misticismo oriental. A bagagem cultural de Huxley impressiona. Em um determinado trecho, por exemplo, cita, com desenvoltura e pertinência, Pavlov, David Hume e o Marquês de Sade. A narrativa em si pode não ser encontrada nas entrelinhas do livro, no entanto o enredo fez com que os intelectuais conservadores da época entrassem em polvorosa. Se Huxley com sua alucinada lucidez utilizou a sensibilidade para prever acontecimentos, aí já é outra coisa... Lançada antes da Segunda Guerra Mundial, o fato é que a publicação trouxe idéias e visões que mais uma vez fariam os leitores refletir acerca da sociedade em que viviam. A epígrafe de abertura é um verso da obra Samson Agonistes, do poeta inglês John Milton, cuja cegueira não era empecilho para captar o universo e transcrevê-lo como sentia, consagrando-se como uma dos maiores escritores já existentes. Aliás, "Sem Olhos em Gaza" pode ser considerado um estudo sobre a cegueira humana que permeava as altas camadas da sociedade nas primeiras décadas do século XX. E metáforas com os olhos são bastante comuns em toda sua obra, fato que encontra justificativa biográfica. “Também o Cisne Morre” (1939), tem como temas morte e a imortalidade. O público não identificou que o inspirador do enredo é o mesmo que levou Orson Welles a realizar o filme "Cidadão Kane", ou seja: William Randolph Hearst, o legendário empresário, jornalista e político da Califórnia, ícone permanente da cultura de massa; “Eminência Parda” (1941), biografia do padre Joseph (confessor e conselheiro de Richilieu), onde se revela também a preocupação entre bem e mal; “A Arte de Ver”; “O Tempo Precisa Parar” (1944) e a “Filosofia Perene” (1946) são os principais livros do período, acompanhados de dezenas de ensaios literários e filosóficos. Huxley continua sendo um homem de intensa atividade intelectual: além de sua enorme produção literária, encontra tempo para ler de tudo, desde os grandes autores da época até a Enciclopédia Britânica, que sabia quase de cor, passando pelas revistas mais extravagantes. Numa delas, lida em 1952, um artigo chamou particularmente sua atenção. Era o trabalho de um certo Dr. Osmond acerca de alguns cactos e cogumelos que produzem visões semelhantes às do êxtase religioso. Não se restringindo à teoria, Aldous entra em contato com o médico e faz experiências - com a atitude objetiva de um cientista - com mescalina e ácido lisérgico (LSD). No ano seguinte, “As Portas da Percepção” relatam suas impressões a respeitos dos alucinógenos. Talvez esta obra nunca tivesse saído da obscuridade se Jim Morrison não tivesse dado este nome à sua banda. As conseqüências da droga sobre a mente humana passaram a constituir um dos temas prediletos do autor.
Seu último romance “A Ilha” (1962), é onde volta a falar da experiência com drogas, numa mensagem de amor e de confiança na humanidade. O livro trata da tentativa da fusão cultural do Ocidente e do Oriente na busca de uma convivência pacífica entre os homens (radicalmente oposta ao ceticismo irônico de Contraponto). O romance começa com Will Farnaby, jornalista que se encontra perdido em Pala, a ilha em questão. Descoberto pelos nativos, Farnaby começa uma jornada que o levará a conclusões sobre si mesmo em relação ao novo meio em que viverá: uma nova cultura em que os valores foram estabelecidos a fim de alcançar o equilíbrio pleno da sociedade. O Oriente como um 'espelho' do Ocidente. Ao invés da atitude predadora do consumo ocidental frente à mansidão oriental, o inverso acontece: o pensamento milenar tem como objetivo restaurar os resultados da inconseqüência gerada pelo avanço tecnológico. Os habitantes da ilha seguem um livro filosófico chamado "Notas sobre o que é o quê e sobre o que seria razoável fazer a respeito disso", que traz os princípios básicos a serem seguidos.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Naturalismo


O cientificismo que tomou conta do pensamento do homem do século XIX influenciou a Literatura daquele período, mas precisamente, com duas escolas que tiveram o apogeu naquele século: O Realismo e o Naturalismo.
Charles Darwin se opunha a doutrina criacionista da Igreja com o livro "A Origem das espécies" e a Literatura ganhava ares mais críticos quanto a sociedade e as instituições que alicerçavam a Burguesia.
O Naturalismo surgiu neste contexto, influenciado pela teoria do Determinismo, que diz que a totalidade dos fenômenos constitutivos da realidade se encontra submetida a determinadas leis, estas sendo compreendidas como possuindo caráter natural. Tais leis, ainda, são consideradas como sendo regidas por uma relação de causalidade. Deste modo, a realidade se estrutura a partir de leis que regem e estão presentes em todos os acontecimentos.
Desta forma, o agir humano é produto de determinações biológicas e do meio no qual o ser humano está inserido. Tal teoria vai contra a ideia cristã do livre-arbrítrio. Para os deterministas o homem não é livre o suficiente para escolher e moldar a própria personalidade. A hereditariedade e o meio social seriam dominantes para o homem, o que muitas vezes o leva a aproximar-se dos seus instintos animais, numa análise científica bem ao gosto dos Naturalistas.
Os romances Naturalistas têm a preferência por temas como a miséria, problemas sociais e sexuais...na França, em 1870, a publicação da obra “Germinal” de Émile Zola dá início cronológico ao estilo Naturalista . O livro fala das péssimas condições de vida dos trabalhadores das minas de carvão na França do século XIX.
No Brasil, Inglês de Sousa abriu caminho com os romances "O Cacaulista" (1876); "História de um Pescador" (1876) e "O Coronel Sangrado" (1877) e "O Missionário" (1891), mas foi com Aluísio Azevedo e a publicação de "O Mulato" em 1881 que o Movimento ganhou força em terras brasileiras. Além do romance "O Mulato" , os romances que o consagraram perante a crítica e o público culto foram: "Casa de Pensão" (1884), inspirado num caso da crônica policial do Rio, que descreve a vida nas pensões chamadas familiares, onde se hospedavam jovens que vinham do interior para estudar na capital; e "O Cortiço" (1890), romance mais popular do gênero no Brasil. As habitações coletivas e a situação de miséria na qual viviam imigrantes pobres, escravos livres ou não e os demais trabalhadores dão o tom para um enredo tipicamente Naturalista em "O Cortiço".
Outro escritor Naturalista brasileiro é Júlio Ribeiro. Seu romance mais conhecido é "A Carne" escrito em 1888 e trata de temas polêmicos como o divórcio, o amor livre, a perda da virgindade. O livro não ganhou o prestígio da crítica como os romances de Aluísio Azevedo, mas fez um grande sucesso com o público leitor, já que possui descrições sexuais nada comuns para a época.
Adolfo Caminha, escritor cearense, publicou em 1893 "A Normalista", talhado nos moldes Naturalistas. O romance também não fez eco entre os críticos e "O Bom-Crioulo", de 1985 é considerado seu melhor livro; com um enredo ousado que tem como tema o homossexualismo na marinha. Já "Tentação" publicado em 1896, é considerado o mais fraco entre seus romances, demonstrando um certo declínio do Estilo Naturalista.
Estes são apenas alguns exemplos de escritores brasileiros que fizeram parte da Escola Naturalista em nosso país.




quinta-feira, 6 de maio de 2010

Ensaio Sobre a Cegueira - José Saramago


Alguma vez na vida, você já se perguntou como seria ficar cego? Como seria depender dos seus outros sentidos para viver? Comer, beber, tomar banho, ir a algum lugar, estudar. Os olhos são a janela da alma, mas o que aconteceria se subitamente essas mesmas janelas ficassem embaçadas ou sujas de leite? E se você não fosse o único? E se essa cegueira se transformasse numa epidemia sem explicação ou forma de contágio? Bem vindo a Ensaio Sobre a Cegueira de José Saramago.
Logo de cara somos apresentados a primeira “vítima”, um homem perde a visão num semáforo, um pedestre caridoso se oferece para levá-lo até a sua casa e rouba-lhe o automóvel. Uma garota tem um caso de conjuntivite, fica cega num quarto de hotel enquanto se prostituía e é deixada no corredor do mesmo, nua e desesperada. Um oftalmologista, ao tratar do primeiro cego, chora ao saber que também foi “contaminado”, sua esposa aguarda que a vez dela chegue.
Mas ela não vem.
Como o governo vai lidar com uma epidemia de cegueira? Quais são as formas de contágio? Como o motorista roubado perdeu a visão assim sem mais nem menos? Essas são as primeiras perguntas que nos surgem na cabeça conforme lemos o livro. Mas calma! Algumas delas têm resposta. Só algumas, e acreditem, elas não são legais.
A princípio, os primeiros cegos são colocados num dormitório abandonado, com direito a rações diárias e só. Até aí, juntam-se o motorista, o ladrão de automóvel, e a garota com conjuntivite – que no livro é identificada como rapariga dos óculos escuros -, o oftalmologista, sua esposa e um garotinho com caso de estrabismo. Lidar com seis pessoas não é tão fácil, mas também não é impossível.
Mas e quando essas seis pessoas viram dez? E essas dez viram vinte? E essas vinte viram duzentas, e de duzentas viram uma cidade inteira? Não há rádio para comunicar os acontecimentos no mundo, não há ordem e nem proteção. É cada um por si. E Saramago aborda essa questão de lealdade e companheirismo. Em um momento de pânico mundial, você confiaria em pessoas que nem o rosto lhe é conhecido?
A quantidade de pessoas cegas é tão grande que a solução é organizarem-se em três dormitórios. A partir daí Saramago mostra como o convívio social pode ser difícil e pode levar a situações drásticas, que vão desde brigas, a criação de uma “ditadura”, passando por abuso sexual e mortes.
E caso você esteja se perguntando o que o governo fez para lidar com tudo isso eu te respondo: NADA. O exército entrega a comida diariamente e o que acontece dentro do alojamento dos cegos é problema deles. O medo que os soldados sentem da cegueira é tão grande que recebem ordens de matar qualquer “contaminado” que se aproximasse demais.
A mulher do oftalmologista é a única do livro todo que consegue enxergar e é basicamente a única “janela” que o leitor tem para conseguir ingressar na situação que os cegos passam, e como se não bastasse ter somente uma fonte de referência sobre a trama, a forma como o livro é diagramado contribui para o sentimento de cegueira do leitor.
Isso mesmo, conforme lê Ensaio, você também acaba sendo “contaminado” pela cegueira branca. E ai você me pergunta:
“Mas que diabos é essa cegueira branca? Eles enxergam um monte de algodão doce?”
Não! O que acontece é o seguinte: esse tipo de cegueira é diferente da cegueira normal, enquanto os cegos enxergam preto, os “novos cegos” como são caracterizados no livro, enxergam branco, como se tudo fosse um grande mar de leite. Entendeu agora o porquê da sujeira branca na janela dos olhos?
Primeiro que não há nomes para nenhum dos personagens, só há características que nos permitem identificar quem é quem e quem fez o quê. Segundo que a falta de pontos finais, travessão e por vezes parágrafos na diagramação do livro contribuem para essa sensação de estar desnorteado, te coloca na pele daqueles que foram “vítimas” da cegueira. Tudo é separado em vírgulas, ação de fala, descrição, etc. Dois pontos ruins: essa mesma diagramação depois de um tempo acaba te cansando e se você não prestar atenção conforme lê acaba se perdendo na trama, e vamos combinar que isso é um saco.
Terceiro: as descrições são precárias. Saramago só diz o suficiente, e por vezes nem isso te ajuda. Isso faz com que o sentimento de cegueira aumente. Mas o legal é que, como em todo o livro, parte de você imaginar como as coisas são ou ficou inclusive uma cidade em que todos os habitantes se encontram cegos.
E pra você que leu ou vai Ler e gostou, eu tenho boas notícias, o livro tem continuação. Você provavelmente se pergunta o que aconteceu depois do final, certo? Pois bem, a segunda parte escrita por Saramago e intitulada Ensaio Sobre a Lucidez tem as respostas das suas perguntas.
Ensaio Sobre a Cegueira é um livro forte e angustiante. Lida com temas como medo, egoísmo, companheirismo, desespero e desolação. Fora o fato de você sentir a mesma pressão que a esposa do oftalmologista sente no desenrolar da trama, tentar entender a situação dos demais ajuda muito na hora de se interar no livro. Conforme você lê você se sente cego, a única diferença é que você enxerga.
Ps.: Esta resenha foi feita por Bruna Rodrigues - aluna do terceiro ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Floriano Landgraf da cidade de Santo Antonio do Paraiso.