sábado, 30 de janeiro de 2010

Persuasão - Jane Austen


Aos 19 anos Anne Elliot é persuadida por sua grande amiga Lady Russell a desfazer o noivado com o pobre, porém ambicioso Frederick Wentworth. A filha do nobre Sir Walter Elliot não poderia perder sua juventude com um noivado inferior a sua classe social. Passados oito anos, o pobre Frederick Wenthworth se torna o Capitão Wenthworth, um rico marinheiro cobiçado agora pelas mais belas e ricas moças da região. Anne sente que pode voltar a ter contato com o amado atrávés do Solar Kellynch, que pertence a sua família mas terá que ser alugado, pois, os nobres precisam de dinheiro. O inquilino do Solar é o Almirante Croft, casado com a irmã de Frederick Wentworth. O casal teria então, sua segunda chance, mas, será que o Capitão Wentworth perdoaria o abandono da amada? O agravante era o fato de Anne ter se deixado levar por opiniões alheias e não ter tido coragem suficiente para enfrentar as diferenças entre os dois.
Jane Austen contruiu neste romance, personagens que representam bem a sociedade inglesa vitoriana. A futilidade e a vaidade da nobreza são representadas pelo pai de Anne, Sir Walter Elliot, e pela irmã mais velha desta, Elisabeth. Sir Walter se preocupou muito quando soube que alugaria seu Solar para um almirante da marinha, um homem rico, mas sem nobreza, com a pele escurecida pelos anos no mar. Elisabeth, por sua vez, quando reencontra o Capitão Wentworth, ex-noivo da sua irmã, não faz questão de lhe ser gentil, já que ele não é uma pessoa interessante para a sociedade da qual ela e o pai se orgulhavam tanto de ter uma ótima posição.
A filha mais jovem de Sir. Elliot, Mary, ganhou algum mérito com seu pai por ter se tornado a Senhora Musgrove, tornando-se parte de uma rica família da região.
A preferência do pai pela filha mais velha ilustra a relação familiar desfalecida por preocupações fúteis que se colocavam a frente do "amor paterno" que todos esperam de um homem.
Anne Elliot, por sua vez, é a mais sensata da família, embora tenha se deixado levar pela opinião de Lady Russell. Anne entende que o capitão Wentworth teria todo o direito de ser indiferente com ela, mas se sente feliz ao notar a preocupação dele para com ela em determinadas situações.
Jane Austen não precisou de polêmicas para criticar a sociedade na qual vivia. Ela precisou de um enredo simples: um amor destruído pela diferença social que tem sua segunda chance quando a vida coloca em frente ao "pobre" uma grande fortuna. Ela precisou de personagens como Anne Elliot, que pouco fala, mas compreende as situações.
Neste romance, Jane Austen mostra que entende muito bem a complexidade do comportamento humano e a escritora ainda coseguiu uma técnica muito interessante de descrever seus personagens, fazendo com que os leitores os conheçam intimamente, mesmo que eles não tomem a palavra a todo o momento.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Peripécias amorosas nos romances


Grandes romances da Literatura mundial se valeram das peripécias amorosas para contruir seus enredos. No Romantismo brasileiro, por exemplo, os apaixonados percorrem um árduo caminho até chegar ao The End... "A Moreninha" de Joaquim Manuel de Macedo, os apaixonados Augusto e Carolina se conhecem desde a infância, quando trocam promessas e símbolos de um futuro amor eterno. Eles atravessam as separações do destino, o tempo, as intrigas adolescentes, os enganos...até que se reconhecem e descobrem que nada foi o bastante para separá-los. "O Moço Loiro", também de Macedo, tem um enredo perfeito para adaptações para a TV: o roubo de uma jóia rara da família, a paixão do acusado pela prima, a busca pela justiça e pelo perdão da família...em "Memórias de um Sargento de Mílicias" de Manuel Antônio de Almeida, o namorador Leonardinho, depois de uma tentativa frustrada de declaração à Luisa, se envolve em muitos casos complicados e só consegue voltar ao seu amor verdadeiro depois que a jovem fica viúva. E o que dizer dos romances de José de Alencar? No romance "Senhora" a jovem pobre Aurélia ama Fernando, mas antes de poder viver este grande amor ela tem que enfrentar muitos obstáculos, como o abandono do noivo que a troca por um "dote" que o ajudaria a pagar suas dívidas de jogo. Numa reviravolta da vida, Aurélia recebe uma herança e "compra" o marido para vingar-se de todo o sofrimento e humilhação que lhe foram impostos. Depois de humilhar o marido publicamente perante a sociedade a resignada moça se rende ao amor de Fernando. Em "A Viuvinha" o casal tem que enfrentar algo muito pior do que uma separação por interesses financeiros, eles tem que enfrentar a morte. Claro que a morte é apenas uma mentira, mas por muitos anos, a jovem acredita que seu marido se suicidara na noite de núpcias e quando ele retorna, precisa conquistá-la novamente, dizendo ser um outro homem.
Na literatura estrangeiras também temos ótimos exemplos: no romance italiano "Os Noivos" de Alessandro Manzoni, o que impede os noivos de realizar o casamento é o amor de um fidalgo pela jovem Lúcia. Os dois se separam e passam por situações muitos complicadas, como perseguições, aprisionamentos, e até mesmo a Peste Negra que dizimava a Europa em plena Idade Média.
Em "O Conde de Monte Cristo" de Alexandre Dumas, estava tudo dando certo na vida de Dantes, até ele ser traído e preso, acusado de um crime que não cometera; o seu "amigo" traidor casa-se com sua noiva e todos acreditam que ele não resistira a prisão. Depois de inúmeras peripécias, ele consegue escapar e encontra uma grande fortuna que lhe permite voltar e se vingar dos seus traidores.
Os romances de Jane Austen são cercados de situações nas quais o amor é posto a prova. Em "Orgulho e Preconceito" Elisabeth acredita que seu romance com Mr. Darcy não tará futuro, já que seu comportamento lhe inspira mistério e desconfiança. Depois de muitas intrigas e mal entendidos, eles se casam. Em "Razão e Sensibilidade" há noivados desfeitos, casamentos inacreditáveis. No romance "Persuasão" o casal apaixonado é separado pelas diferenças sociais: uma jovem da prestigiada e nobre família Elliot não poderia perder sua vida ao lado do pobre Frederick Wentworth. O Jovem ambicioso ingressa na Marinha e se torna capitão, consegue uma grande fortuna e depois de um jogo de conquista, consegue o tão sonhado casamento com Anne Elliot.
O que seria da Literatura sem as peripécias do destino que separam os amantes e os colocam depois no mesmo caminho novamente? Acho que a Literatura teria sido privada de grandes clássicos caso os enredos se resumissem a um começo, meio e fim felizes.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Paulo e Virgínia - Bernardin de Saint-Pierre


Usado para exemplificar o romance folhetinesco, ingênuo e com personagens idealizados, “Paulo e Virgínia” é uma obra que condensa todas as características românticas extremas e todos os ingredientes que despertaram horror aos Realistas. Escrito em 1787, pelo francês Bernardin de Saint-Pierre, “Paulo e Virgínia” apresenta o ideal do “Bom Selvagem”, já que os casal protagonista vive, junto com suas mães, numa ilha distante da civilização francesa, um lugar paradisíaco que permite a eles crescerem em contato com coisas puras e os livra do contato com as novas ideias capitalistas da Côrte.
Os dois crescem como irmãos, mas o sentimento de Paulo começa a se intensificar e é grande a sua tristeza quando Virgínia é lavada ao continente por uma tia que deseja educa-la como uma verdadeira dama da sociedade. Os campos da bela ilha não são os mesmos sem a presença viva e alegre de Virgínia para correr e fazer as tarefas do dia. Paulo sente-se cada vez mais sozinho, enquanto Virgínia também chora a falta do seu amor primeiro. Quando a Jovem resolve retornar a ilha, pois percebe que só lá poderia voltar a encontrar a felicidade que a cidade não lhe proporcionava, o navio que a transportava naufraga às costas da ilha e Paulo morre ao vê-la morrer afogada.
Um final digno de um clássico romântico: o sacrifício da vida pelo amor, a pureza resiste, o verdadeiro amor não precisa ser vivido nesta Terra, por mais bela que seja. Paulo é um apaixonado fiel, puro e compreensivo, precisa da presença da amada, mas quando isso não é possível, vive das lembranças dos momentos bons vividos a dois. Virgínia é uma jovem pura, fiel aos seus sentimentos e desinteressada da vida confortável que sua tia lhe propõe. Um casal vivendo um amor primeiro, numa ilha paradisíaca na qual não é preciso dinheiro ou posição social para ser feliz... tamanha idealização fez o romance ser citado por Gustav Flaubert na obra que iniciou o movimento realista na França: “Madame Bovary”. Emma Bovary tem sua personalidade construída pela leitura de folhetins românticos, entre eles, “Paulo e Virgínia”. Através destas leituras, ela busca satisfazer-se procurando o par ideal, procurando uma nova versão de “Paulo”.
Embora seja criticado e tenha recebido inúmeras críticas dos escritores posteriores a ele, Bernardin de Saint-Pierre escreveu este romance colocando nele os conceitos em voga na época, talvez por isso, “Paulo e Virgínia” tenha sido um sucesso no tempo de sua publicação, sendo traduzido para inúmeras línguas ( era a Revolução Francesa transformando a Literatura em mais uma forma de comércio) e estabelecendo-se entre os grandes clássicos da literatura francesa, independente do julgamento feito pela crítica quando explodiu Movimentos como o Realismo e o Modernismo que abdicaram da idealização para das início a uma Literatura comprometida com a denúncia a sociedade burguesa que havia ascendido ao poder com a Revolução Francesa.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Romances Sertanejos no Romantismo Brasileiro



O Brasil é um país rural, isso ninguém pode mudar. As terras férteis encantaram os colonizadores e alguns estados brasileiros como Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás, entre outros, são conhecidos pela sua produção agrícola de grande importância para a economia nacional.
As fazendas de café no interior de São Paulo atraíram imigrantes europeus, logo depois da abolição dos escravos em solo nacional. A vida simples, ligada à agricultura ou a pecuária é muito interessante em nosso país e já criou estilos musicais que estão entre os mais populares, como o sertanejo de raiz, das músicas que falavam dos sentimentos e dramas do homem da terra, da natureza e dos contos antigos contados de geração para geração.
Mas não foi só a música que se valeu do campo não...a Literatura também já contou e ainda conta com o mundo rural e sertanejo como inspiração.
No século XIX o Brasil se dividia entre a Côrte e o interior. Grandes fazendeiros (barões, coronéis) não eram donos apenas das propriedades, mas também da mão de obra utilizada. A escravidão ainda imperava em solo brasileiro. Alguns estados, como os do Centro-Oeste, eram cercados pelo verde e pequenos sítios eram cultivados em meio à mata fechada.
Neste contexto surgiu um romance muito interessante, um “Romeu e Julieta” sertanejo: “Inocência” Visconde de Taunay. Este romance possui descrições idealistas da natureza mescladas com um ponto de vista científico do autor, que criou personagens interessantes que exemplificavam muito bem a forma de pensar do brasileiro longe das grandes cidades que na época sofriam intensa influência dos costumes e do pensamento europeu.
Talvez o mais popular sertanista brasileiro do século XIX tenha sido Bernardo Guimarães, que escreveu “A Escrava Isaura”, uma estória clássica romântica que separava mocinhas inocentes e puras de vilões cruéis e pervertidos em meio a uma grande fazenda de café na qual os escravos lutavam de sol a sol com a terra.
Bernardo Guimarães se aventurou por temas “polêmicos” (obviamente de acordo com os preceitos românticos). No Romance “O Seminarista” um jovem destinado à Igreja por seus pais vê sua missão se tornar cada vez mais difícil quando descobre uma paixão de infância pela filha de uma pobre viúva que morava nas terras de seu pai. O autor utilizou uma simbologia muito interessante ligada ao meio rural e as tradições religiosas bíblicas...a pequena Margarida é atacada por uma cobra enquanto brincava com o futuro padre Eugênio. Embora a criança fosse salva, a mãe de Eugênio não vê com bons olhos aquela proximidade com o animal símbolo do pecado e fica muito apreensiva quanto a relação do filho com a pobre menina.
Bernardo Guimarães utilizou também o garimpo, forma de trabalho muito comum em Minas Gerais e Goiás naquela época (e até mesmo nos dias atuais). Foi no romance “O Garimpeiro” que ele explorou esta outra face do trabalho rural.
José de Alencar é sem dúvida um romancista muito versátil. Escreveu romances urbanos, históricos, indianistas, de costume e também romances sertanejos (ou regionalistas). Em “O Sertanejo” Alencar apresenta um cenário muito conhecido seu, o Nordeste Brasileiro...uma curiosidade muito interessante é que o autor utilizou no romance “O Gaúcho” um cenário que nunca havia visitado, o Rio Grande do Sul. “Til”, “O tronco do ipê”, “O sertanejo” e “O gaúcho” mostram as peculiaridades culturais da nossa sociedade rural, com acontecimentos, paisagens e muita idealização é claro, já que estamos falando de Romantismo.
Estas são apenas algumas das tentativas de muitos autores corajosos que em plena dominação cultural européia quiseram mostrar aos brasileiros um Brasil até então desconhecido e esquecido pela Côrte. Embora a natureza diversas vezes apareça idealizada (mais lembrando talvez um cenário europeu), autores sertanistas, regionais, rurais, se lembraram que havia vida além da cidade e que a cultura rural também era rica e poderia proporcionar grandes romances. Ajudados por um movimento literário que buscava o nacionalismo e a idealização das belezas naturais brasileiras, os românticos criaram um estilo que se desenvolveria muito nos séculos seguintes e daria origem a clássicos aplaudidos pela crítica como “Os Sertões” de Euclides da Cunha e “Grande Sertão Veredas” de Guimarães Rosa, este último apresentando em enredo universal que não se limitava ao meio vivido pelos personagens.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

A Letra Escarlate – Nathaniel Hawthorne


Um romance de pecado e sofrimento. Com esta afirmação podemos definir a obra imortal de Nathaniel Hawthorne, nascido em Salem de antepassados puritanos que ajudaram a condenar muitas “bruxas” à fogueira.
Nova Inglaterra, ano de 1666, a jovem inglesa Hester Prynne é exposta ao público num pelourinho no centro da cidade de Salem. Ela é acusada de adultério, já que tem nos braços uma filha de três meses e seu marido não havia chegado da Inglaterra há dois anos.
A surpresa de Hester foi enorme quando ela o viu no meio da população da cidade que a julgava. Assumindo a identidade de médico e o nome Roger Chillingworth, ele resolve se vingar do ultraje não através de Hester, mas do pai da criança que ela tem nos braços. A identidade do pai é mantida em segredo pela jovem, o que causa grandes transtornos as autoridades religiosas (que se fundiam com as autoridades jurídicas). Como condenação, Hester é condenada a usar pelo resto de seus dias a letra A bordada em seu peito com açor Escarlate, para que todos saibam que ela é culpada por adultério.
O jovem Reverendo Arthur Dimmesdale, homem santo para a população de Salém, tem a sua saúde cada vez mais abalada depois do acontecimento e o povo o vê nadar pelas ruas com a mão no coração, enfermidade que só aumenta sua áurea angelical perante seus fiéis. Depois que o doutor Roger Chillingworth vai viver com ele para tentar restaurar-lhe a saúde, o pastor não entende porque se sente cada vez mais angustiado e seu segredo lhe pesa cada vez mais ao coração. O segredo é velado por muitas páginas do livro, mas o leitor logo percebe que Arthur Dimmesdale é o pai da pequena Pearl ( a pequena pérola de Hester). A pequena Pearl cresce rodeada por mitos, muitos acreditam que a personalidade forte da criança é conseqüência de seu nascimento através do pecado.
Através do romance, Nathaniel apresenta uma situação típica da época: a procura de algumas mulheres pela magia e o julgamento que a sociedade da época fazia delas.
Diferente de outros romances de adultério, como “Madame Bovary” e “Ana Karênina”, a protagonista pecadora não paga seu “crime” com a própria vida, pelo contrário, o jovem pastor não suporta mais carregar na própria carne o símbolo que sua companheira no pecado carregava de forma visível... A saúde frágil leva o Reverendo Dimmesdale a confessar seu crime publicamente, mostrando a letra A cravada em seu peito, mas não em roupas como Hester usava, mas sim, na própria carne.
Depois da morte dele, Hester passa a viver uma vida mais tranquila, como se o crivo dos olhos juízes não a condenassem mais, afinal de contas, até o mais santo dos homens havia caído em tentação, porque ela, uma simples mulher solitária não iria cair também? No fim da vida, Hester ganha o direito de deitar seu túmulo ao lado do túmulo do amado, mesmo que naqueles campos da Nova Inglaterra, a Letra Escarlate continuasse subsistindo.
“A Letra Escarlate” é considerado por muitos críticos o maior romance da história da Literatura norte-americana e este título não é um exagero, já que Hawthorne consegue transpor para as páginas deste livro a intensidade e o fervor de uma época distante muito complicada da história da colonização da Inglaterra sobre as terras americanas.
O autor desenvolve o romance de uma forma poética, esmerada na linguagem e demonstrando uma grande preocupação estética.
Com a morte de Nathaniel Hawthorne em 1864 a Literatura norte-americana finalizou um ciclo e concretizou-se na história da Literatura universal.