sábado, 8 de agosto de 2009

Encarnação - José de Alencar


A segunda esposa é um tema interessante e recorrente. O amor além da vida de um viúvo que não consegue desvencilhar-se da imagem perfeita da primeira esposa, levada cedo de seus olhos. Ao contrair segundas núpcias, dificuldades surgem, como o remorso, o sentimento de culpa e a sensação de que está traindo seu primeiro e verdadeiro amor. O romance de José de Alencar trás uma estória de amor assim. Publicado postumamente, no ano de 1877, o romance conta a trajetória de Hermano, que vive com sua esposa Julieta numa casa ao lado da mansão da família da pequena Amália. Julieta deixa a entender que para ela o amor não acaba com a morte, portanto, quando ela morre durante a primeira gravidez, Hermano isola-se do mundo e se transforma num homem triste e solitário. Os anos passam e Amélia torna-se uma mulher bonita e prendada. Ao vê-la tocando ao piano a música preferida da amada Julieta, Hermano decide pedi-la em casamento. Amélia reluta em aceitar, pois, ao ver Hermano em companhia duma dama no quarto da esposa morta, acredita que ele não é fiel ao amor antigo. Ela percebe que está muito apaixonada por ele e é vencida, entregando-se ao casamento com o vizinho misterioso. Sem consumar o matrimônio, Amélia percebe que foi um grande erro, pois, Hermano vive preso à imagem de Julieta e não conseguia amá-la da forma como ela o amava. Ele decide então, pôr fim a sua vida, para deixar Amália livre e não estragar a vida da jovem mantendo-a presa a uma relação sem futuro. Amália decide entrar escondida no antigo quarto de Julieta e tem uma grande surpresa ao notar duas estátuas em posições diferentes da falecida Julieta. A suposta amante que ela acreditava ter visto antes de casar-se, era na verdade uma estátua, fruto da obsessão do marido por um amor que ele idealizara em Julieta. Decidida a salvar Hermano da loucura e construir uma vida feliz ao lado dele, a jovem descobre os planos do marido de suicidar-se durante um baile ao qual eles compareceriam. Ao notar que o marido saiu da festa sem ela, Amália vai até sua casa e percebe que Hermano a incendiou. Com muita coragem e determinação, ela consegue salvá-lo não apenas do incêndio, mas também, da obsessão por Julieta. O desfecho do romance é tipicamente romântico: cinco anos depois do fatídico acontecimento, Amália e Hermano voltam com a pequena filha até o local e percebem que ele está totalmente curado e entregue ao amor da segunda esposa. O título do romance “Encarnação” deixa muitos leitores à espera de uma estória baseada no espiritualismo e no sobrenatural, mas José de Alencar descarta de inicia a possibilidade da reencarnação, já que quando Julieta morre, Amália já é nascida. O autor prefere fixar o romance em torno da questão sentimental e psicológica, por isso utiliza a promessa de fidelidade além da vida de Hermano para com a esposa, a sua necessidade de manter a imagem da falecida na casa, com a construção das estátuas e costumes estranhos, como manter um prato à mesa destinado a ela. A encarnação é na verdade uma procura de Hermano em encontrar o amor perfeito e idealizado, primeiramente em Julieta e depois em Amália que para ele poderia ser uma nova face do sentimento que ele tanto procurava.

Um comentário:

  1. Este livro trata de tema também relacionado em "Rebecca" de Daphne du Maurier e "A Sucessora" da brasileira Carolina Nabuco.

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