terça-feira, 9 de junho de 2009

O Prisioneiro - Érico Veríssimo

Érico Veríssimo é sem dúvidas, um dos escritores mais populares do Sul do Brasil. Grande representante gaúcho da Literatura moderna, o autor se destaca em romances como a trilogia “O Tempo e o Vento” na qual constrói através de um misto de personagens fictícios e personagens reais, um panorama histórico da formação do Rio Grande do Sul. Érico Veríssimo também se destaca pelos romances do chamado “Ciclo de Clarissa” nos quais os personagens passeiam de um romance para o outro através de uma realidade cercada pela poesia presente no dia a dia. Poesia esta que poucos autores conseguem realizar com maestria como Érico Veríssimo.Entretanto, outros romances e novelas do escritor ficam diversas vezes esquecidos, por não pertencerem a nenhum dos dois grupos já citados. A surpreendente novela “Noite”, o realismo fantástico de “Incidente em Antares” são alguns exemplos. Podemos citar também “O Prisioneiro”, romance de cunho político escrito pelo escritor gaúcho na época da Guerra do Vietnã. Sentado no quintal da casa de sua filha nos EUA, Érico observava o noticiário sobre a Guerra do Vietnã enquanto via seu neto brincar, ele o imaginou com um capacete militar em meio a guerra e teve a idéia de escrever “O Prisioneiro”.Sem nomear pessoas ou países, para evitar acidentes diplomáticos, Érico Veríssimo desenvolve uma trama interessante sobre um jovem tenente mestiço norte-americano cheio de traumas devido ao preconceito que vive em seu país. Ele tem como única amiga uma professora francesa e um caso coma prostituta vietnamita chamada apenas de K. O romance descreve o suicídio de uma budista de apenas 17 anos, que ateara fogo às vestes empapadas de gasolina, a explosão do prédio onde os militares se encontravam com as prostitutas locais, as crises de consciência do tenente mestiço, os dramas e paixões do coronel puritano, do major epicurista, do capitão médico, judeu sobrevivente do holocausto...Como é de costume em seus romances, Érico não tem pena dos personagens masculinos, deixando os pensamentos mais coerentes para a professora francesa. Uma suspeita de bomba leva a prisão de um jovem vietnamita e o coronel precisa fazer com que ele conte onde está a ameaça. Para este trabalho, ele destina o tenente mestiço, num misto de preconceito e covardia. O tenente é levado pelas conseqüências a torturar o jovem vietnamita para descobrir o destino da bomba, e depois disso, é duramente criticado pelo capitão médico, que coloca na atitude do tenente a mesma crueldade que ele sofreu durante o holocausto. O desfecho do romance é trágico. Sem ter pra onde fugir e atormentado pelos sentimentos de culpa aos quais é acometido, o tenente morre. As palavras da professora francesa depois da morte do amigo resumem a critica social que o autor procurou fazer com este romance. Segundo ela, agora ele estava em paz, já que durante a vida ele sempre viveu em guerra, guerra dentro do seu próprio país, que não o aceitava por ter sangue negro, guerra contra a própria consciência, já que ele se culpava pela vergonha que tinha do pai negro e pela tortura que cometeu contra o vietnamita, e por fim, uma Guerra contra um pequeno país desconhecido, guerra sem porquês e sem explicação, na qual muitos norte-americanos perderam suas vidas sem saber a razão pela qual lutavam e vietnamitas perderam tudo, sem saber o motivo pelo qual perdiam.

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