quarta-feira, 3 de junho de 2009

Helena – Machado de Assis

O escritor mais aclamado pela crítica brasileira, Machado de Assis, é amplamente conhecido pelos seus romances realistas, nos quais a fina ironia e a crítica as bases da sociedade burguesa se destacam. Muitos deixam de lado a fase “romântica” do autor, o que é um grande erro, já que entre os romances de cunho mais sentimental, Machado de Assis consegue destacar-se já com uma pitada de realismo que se desenvolveria na obra posterior do autor.O romance apresenta um enredo que nos dias atuais já se tornou parte do “Lugar comum” sendo constante em telenovelas e filmes, mas na época de seu lançamento 1876 o tema “amor entre irmãos” era muito polêmico. O realismo presente na segunda fase da obra de Machado de Assis já ganhava contornos neste romance, pois a estória se inicia com a morte do Conselheiro Vale por apoplexia fulminante e em seu testamento ele dá instruções para que seu filho Dr. Estácio e sua irmã Úrsula acolham em casa sua filha chamada Helena, fruto de um relacionamento extraconjugal. O filho e a irmã desconheciam a existência da jovem e relutam em aceitar tal idéia, mas acabam obedecendo as ordens do falecido conselheiro e desta forma, Helena vai viver na propriedade que agora pertence a seu meio irmão Estácio.No início, Dona Úrsula tem certa antipatia pela estranha que entrou em sua vida de forma tão abrupta, mas com o tempo, a personalidade encantadora e a beleza de Helena conquistam a todos, inclusive seu irmão que passa horas com ela entretido entre conversas e passeios. Estácio estava noivo nesta época, mas logo percebe que a noiva não é a mulher com quem sonha passar a vida inteira. Ele se assusta ao perceber que a falta da irmã lhe causa sentimentos bem diferentes de uma saudade fraterna, ele precisava de helena perto de si, como um homem precisa da mulher que ama para viver. Helena sente o mesmo por ele, e resolve ficar noiva também. O escolhido é um amigo de infância de Estácio que caba de voltar da Europa. A situação se agrava quando Estácio é tomado pelo ciúme ao descobrir que a irmã visita com frequência uma cabana onde mora um homem de meia idade. A surpresa é grande para Estácio ao descobrir que o homem visitado por Helena é na verdade, seu pai biológico, já que quando o Conselheiro Vale iniciou o romance com a mãe de Helena a pequena já era nascida. Estácio fica confuso com o misto de sentimentos que se apossam dele, poderiam passar agora da condição de irmãos para amantes? Ele é aconselhado pelo Pároco local a não levar esta ideia a diante, já que a sociedade nunca compreenderia a relação dos dois. Enquanto isso, Helena se julga culpada por saber toda a verdade e escondê-la este tempo todo do seu amado. Aos poucos, Helena vai definhando em sua culpa, acreditando que Estácio a considera uma mulher aproveitadora por esconder a verdade sobre sua paternidade. Consumida pelo remorso, Helena morre por amor a Estácio. Este é o desfecho romântico de uma obra de transição de Machado de Assis. Neste romance estão presentes algumas situações que se tornarão constantes nos romances realistas do autor, como o casamento por conveniência, o adultério (no caso do Conselheiro Vale), e o comportamento desenvolvido pela protagonista que mente sobre sua origem para ser acolhida no conforto da família Vale. Machado de Assis sabia a hora certa de esbofetear a sociedade com sua pena e por isso, guardou a ironia mais ácida para cinco anos depois ser despejada em “Memórias póstumas de Brás Cubas”.

2 comentários:

  1. Interessante abordar a continuidade na obra de Machado e não a cisão entre duas fases, estou vendo as obras sob essa perspectiva.

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  2. Machado na verdade é só um,é interessante acompanhar sua evolução como escritor.

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