sexta-feira, 29 de maio de 2009

Dom Casmurro - Machado de Assis

“A fruta já estava dentro da casca”. Esta é a conclusão de Bentinho ao fim das suas memórias. Mas afinal de contas, Capitu era mesmo dissimulada ou apenas uma mulher a frente do seu tempo? Questões como estas permeiam o romance e imortalizaram a obra-prima de Machado de Assis.O quieto e amargurado Bentinho, já na velhice, conta a história do seu amor pela vizinha Capitu desde a descoberta do sentimento, até o desfecho de abandono, ciúmes e solidão.Algumas partes do enredo de “Dom Casmurro” parecem tiradas de um folhetim romântico: a diferença social dos amantes, a promessa cristã como obstáculo, o casamento vencendo todos os impedimentos ao amor de infância... mas, Machado de Assis surpreende a todos os românticos com o rumo destes episódios. Capitu não é nenhuma romântica Cecília da obra de José de Alencar, sendo assim, faz de tudo para alcançar seu objetivo de casar com Bentinho. Torna-se então, uma mulher rica, da burguesia. Desta forma, cai por terra o cristianismo e qualquer tipo de fidelidade à Igreja. O casamento de Capitu e Bentinho desde o início está marcado pelo ciúme, sentimento que começa cedo, quando os dois ainda nem tinham a relação assumida:
... Capitu e a passagem de um dandy... Ora, o dandy de cavalo baio não passou como os outros; era a trombeta do juízo final e soou a tempo; assim faz o destino, que é o seu próprio contra-regra. O cavaleiro não se contentou de ir andando, mas voltou a cabeça para o nosso lado, o lado de Capitu, e olhou para Capitu, e Capitu olhou para ele; o cavalo andava, a cabeça do homem deixava-se ir olhando para trás. Tal foi o segundo dente de ciúme que me mordeu. (DOM CASMURRO p.123).
Esta foi a primeira passagem na qual o olhar de Capitu causou ciúmes em Bento. Nota-se uma grande certeza nas palavras do narrador. Aí está outra questão importante no romance: todas as informações são passadas a nós, leitores, sob o olhar ciumento e melancólico de um marido que acredita ter sido traído. Ao mesmo tempo em que coloca situações comprometedoras para Capitu, como a semelhança de Ezequiel com Escobar, o olhar dela ao cadáver deste, o episódio no qual Bentinho encontra Escobar em casa enquanto havia ido ao teatro sem a esposa, pois ela recusou-se alegando estar doente... ele também deixa dúvidas com outras questões intrigantes: A mãe de Sancha se parecia com Capitu e as duas não eram parentes, a semelhança de Ezequiel com Escobar poderia ter sido fruto do ciúme de Bentinho, já que quando o “filho” retorna da Europa, já adulto, ele vê no rapaz semelhanças até mesmo em trejeitos que podem ser comuns a muitas pessoas sem elas serem pais e filhos necessariamente.
Era o próprio, o exato, o verdadeiro Escobar. Era o meu comborço, era o filho de seu pai.A voz era a mesma de Escobar, o sotaque afrancesado.”(DOM CASMURRO p.205).Estendeu o copo ao vinho que eu lhe oferecia, bebeu um gole, e continuou a comer. Escobar comia assim também, com a cara metida no prato. (...) contava o Egito e os seus milhares de séculos, sem se perder nos algarismos; tinha a cabeça aritmética do pai. (DOM CASMURRO p.206).
O poder da pena de Machado de Assis fez com que “Dom Casmurro” se tornasse um clássico da língua portuguesa, que até hoje é motivo de discussões entre os críticos. Estas discussões vão muito além da tradicional questão “Capitu traiu ou não traiu?” Há no livro coisas intrigantes demais para se prender a esta dúvida, como por exemplo, o que fez uma sociedade machista como a do século XIX desconfiar das afirmações de um marido traído e dar crédito a uma mulher possivelmente adúltera? De certo, eles foram seduzidos também pelos olhos de ressaca de Capitu, olhos estes que seduziram a todos e fizeram com que Bentinho se fechasse na Casmurrice e não pudesse amar outra mulher que não tivesse os mesmos olhos da sua primeira amada.

Madame Bovary - Gustave Flaubert


“Madame Bovary sou eu”. Esta frase antológica de Gustave Flaubert é uma resposta durante seu julgamento por imoralidade, quando perguntado: “Quem é madame Bovary?” É claro que a resposta enigmática não tem o significado denotativo. Isto não seria possível, já que a famosa personagem possuía características bem femininas. Ela simboliza a temática do livro, já que “Madame Bovary” é toda uma sociedade que se distanciava cada vez mais dos princípios de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” propostos durante a Revolução Francesa. Emma é uma jovem criada pelo pai viúvo e educada num convento, lá, ela lê romances românticos que tinham como público leitor mulheres como ela, que idealizavam a vida e os amores presentes naquela literatura.

Emma lera Paulo e Virgínia, sonhara com a cabana de bambus, com o preto Domingos, com o cão fiel e, principalmente, com a doce amizade de algum irmãozinho, que lhe colhesse frutos maduros em árvores mais altas que campanários ou que corresse descalço pela areia, para lhe trazer um ninho. (MADAME BOVARY p.29).
Depois de algum tempo casada com Charles Bovary, um médico viúvo, Emma percebe que ele não é nenhum herói das suas leituras, começa então a esperar alguma ação do marido que conseguisse despertar nela o amor tão sonhado e esperado. Nem mesmo o nascimento da filha Berta faz com que Emma anime-se a sentir amor pela família que constituiu. Ela só se torna amável quando encontra o primeiro amante Rodolfo Boulanger. Emma faz planos de fugir com o amante, não esperava, porém, que as intenções do conquistador não eram tão românticas quanto às dela. Ao ser abandonada, Emma mergulha-se numa profunda apatia da vida e muitos acreditam que ela não irá resistir. A doença de Emma faz Charles contrair dívidas, mas ele se sente compensado quando a vê restituída e fora de perigo.Emma consegue restituir a felicidade ao reencontrar um conhecido da família, o jovem Leon, que ela reencontra numa apresentação de ópera que assistiu junto com o marido durante uma viagem do casal à capital.O medo de perder o novo amante e a chance de viver o tão esperado “Romance romântico” vai aos poucos construindo a ruína da Madame Bovary. Ela se afunda em dívidas e o consumismo, comum entre os burgueses do século XIX, a coloca num beco sem saída. Com o abandono de Leon, Emma não vê solução além do suicídio. As cenas que antecedem a sua morte por envenenamento com arsênico, têm fortes raízes naturalistas, com direito a agonia e detalhes médicos do sofrimento da protagonista.

...Emma começou a gemer, a princípio muito fracamente. Sacudiam-lhe os ombros grandes arrepios e tornou-se mais branca do que o lençol em que cravava as unhas. O pulso irregular era agora quase insensível (MADAME BOVARY p.233).
Depois da morte de Emma, Charles descobre estar falido e torna-se um pobre que luta contra a tristeza de perder o amor da sua vida. Mesmo quando descobre a traição da esposa, o amargurado Charles não toma as atitudes de um “Otelo” orgulhoso. Pelo contrário, ele procura encontrar em Rodolfo algo que possa ter encantado Emma, que não destrua a imagem da esposa aos seus olhos.

Um dia em que Carlos foi à feira de Argueil para vender o cavalo – último recurso -, encontrou Rodolfo. Mal se viram, empalideceram. Rodolfo, que apenas enviara o seu cartão, principiou por balbuciar desculpas, depois animou-se e levou o aprumo (fazia então muito calor, porque estavam em agosto) a ponto de convidá-lo a tomar um copo de cerveja.Sentado em frente dele, mordia o charuto, conversando, e Charles perdia-se em devaneios diante daquele rosto que amara. Parecia-lhe tornar a ver alguma coisa dela. Era uma espécie de encantamento. Quisera ser aquele homem. (MADAME BOVARY p.256).
Seu trágico e patético desfecho é a morte por desgosto num dia qualquer, no jardim de casa. A filha Berta, esquecida por todos, começa a afazer parte do proletariado e trabalhar em fábricas depois da morte de quase toda a família.Muitos se perguntam qual é o verdadeiro tema de “Madame Bovary”. Seria o adultério feminino, a crítica ao estilo romântico, crítica ao consumismo, à burguesia? Ao ler o romance pela primeira vez, o leitor tende a acreditar em qualquer um destes, ou em todos. Eles estão presentes sim. Mas a partir da segunda leitura, o leitor atencioso percebe que o grande tema proposto por Gustave Flaubert é a mediocridade humana. Mediocridade que permite que Charles seja dominado por todas as mulheres que se aproximam dele, que faz os amantes de Emma a usarem apenas para o seu próprio prazer, que faz Emma colocar a sua vida em jogo por uma ilusão lida em romances na juventude.Gustave Flaubert não se equivocou ao responder “Madame Bovary sou eu”, já que ele fazia parte da sociedade que procurou descrever na sua obra-prima e que inaugurou, se assim se pode afirmar, um movimento Realista, que se tornaria fecundo no mundo inteiro criticando e contrariando o Romantismo que Emma tanto amava e que a fez procurar nos homens menos “cavalheiros”, os heróis que deixariam tudo por amor e a fariam a mulher mais realizada do mundo.

Ana karênina - Leon Tolstói

“Todas as famílias felizes são parecidas entre si. As infelizes são infelizes cada uma a sua maneira.” Esta enigmática frase inicia o romance de Leon Tolstoi. Ela introduz a situação que fará Ana sair de São Petersburgo para ir até Moscou tentar salvar o casamento do irmão Stiepan Arcádievitch Oblonski. Ana karênina depara-se com Vronski, um homem jovem e sedutor, bem diferente do seu marido Karenin, vinte anos mais velho do que ela e mais preocupado com a sua posição aristocrática do que com a vida pessoal e familiar. Quando o inicia-se o caso entre Ana e Vronski, Karenin tem uma atitude de cautela, pedindo para que a esposa fosse ao menos discreta nos seus amores. Um exemplo disto é momento no qual Vronski sofre um acidente durante um campeonato de equitação e Ana se desespera:
- Que te pareceu incorreto no meu comportamento?- O desespero que não soubeste esconder quando caiu um dos cavaleiros.Karenin aguardava que ela respondesse, mas Ana permaneceu calada, o olhar fixo diante de si. - Já te pedi que te comportasse corretamente em sociedade para que as más línguas nada tivessem a dizer de ti. De uma vez falei-te, mesmo, das nossas relações íntimas; agora, não, agora falo das relações externas. Comportaste-te de forma inconveniente e desejaria que isto não voltasse a repetir-se. (Ana Karênina p. 209).
Ana enfim, decide-se a abandonar o filho e o marido e vai viver com o amante, mas sua vida não se torna um “mar de rosas”, já que ela sente que terá de pagar um preço pela atitude: ser vista como uma mulher adúltera e sem escrúpulos. Aos poucos, Ana se desespera no medo de perder tudo que lhe restou: o amor de Vronski. Por mais que este lhe dispusesse cuidados e carinhos ela não se sente segura. Coração insaciável é o de Ana, que se torna possessiva e dualista. Às vezes fica feliz por ter tomado a decisão de abandonar a família para viver com Vronski, em outros momentos, se sente culpada por estar longe do filho que teve com Karenin. As brigas entre Ana e Vronski se tornam cada vez mais freqüentes e ela cobra atenção do amante:
_ Naturalmente quisestes ficar e ficaste. Fazes tudo o que queres (...) – exclamou, cada vez mais exaltada. - Acaso alguém aqui discute os teus direitos? Queres ter razão, pois fique com ela. Vronski fechou a mão, endireitando-se, e no rosto pintou-se-lhe uma expressão ainda mais firme. - Para ti é uma questão de casmurrice, sim, de casmurrice – repetiu ela, olhando fixamente Vronski, quando encontrou um qualitativo para aquela expressão que tanto a irritava. – Para ti o que importa é saber qual de nós acabará por sair vencedor. Mas para mim... – outra vez sentiu compaixão por si própria e pouco faltou para romper a chorar. – Se soubesses o que significa para mim a tua hostilidade, sim, é essa a palavra! Se soubesses o medo que eu tenho de uma desgraça em momentos assim, o medo que tenho de mim mesma! – e Ana voltou o rosto para esconder as lágrimas. .(ANA KARÊNINA Vol.2 p. 250.).
A morte de Ana é sua vingança contra Vronski, que para ela, já havia esquecido de seu amor. Descontrolada ela se suicida na mesma estação de trem na qual os dois se conheceram. “Escrito na estrelas”? Difícil questão a ser respondida, já que Leon Tolstoi construiu o romance sob um clima de maus presságios da protagonista, agoniada por viver uma história de amor condenável aos olhos de todos e que por isso, sempre esperava que algo de mal fosse acontecer para destruir a felicidade conseguida a custo de lágrimas alheias. Vronski tem a guerra da Sérvia como solução para a sua tristeza.
_ O meu único mérito – tornou Vronki – está em que a vida para mim nada mais significa. Apenas sei que ainda me resta energia suficiente para entrar na liça e matar ou morrer. Compraz-me saber que existe alguma coisa por que possa das a minha vida, e não porque precise dela, mas apenas porque se me tornou odiosa. Assim servirá a alguém – acrescentou, com um movimento de impaciência do maxilar, resultado da dor no maxilar que o atormentava e, outrossim, não lhe permitia falar com a expressão desejada. (ANA KARÊNINA VOL.2 p. 320.).
Um romance de adultério? Uma crítica à sociedade aristocrata? A estória de amor entre Ana e Vronski poderia ter se tornado piegas e exageradamente romântica, não fosse a habilidade de Tolstoi em incutir-lhe um tom introspectivo e dualista que leva o leitor a sentimentos diversos em relação à Ana... ora culpada, ora vítima de uma paixão desenfreada por um homem que lhe proporcionaria todos os carinhos que a família clássica da aristocracia não lhe proporcionava mais.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Rebecca - Daphne Du Maurier




No ano de 1938 a inglesa Daphne Du Maurier publicou o romance "Rebecca". O sucesso do livro, fez com que o mestre do suspense Alfred Hitchcock filmasse um longa em 1940 sob o título de "Rebecca - a mulher inesquecível". O filme obteve grande êxito, assim como o romance. O enredo do romance gira em clima de suspense. Um viúvo de 42 anos está a passeio em Monte Carlo e encontra uma senhora norte-americana acompanhada por uma jovem dama de companhia. A tímida moça tinha apenas 22 anos e era órfã. Entre os dois surgem afinidades e eles começam a passear juntos pela cidade. Max de Winter propõe casamento à jovem que logo aceita, pois estava apaixonada. Depois de alguns meses de lua-de-mel ele a leva para sua casa na propriedade chamada Manderley ao redor de Londres. Ao chegar no local, a moça (chamada apenas de Mrs. de Winter) percebe que todos vivem a sombra de Rebecca, a primeira esposa de seu marido, morta no mar em circuntâncias misterisas.A governanta Mrs. Danvers adorava Rebecca e faz de tudo para transformar a vida da segunda esposa num martírio. A jovem não consegue se adaptar a vida aristocrata do marido, o que faz com que ela sofra muito. Um dia ela passeava perto do mar e encontrou uma cabana que todos diziam ser usada por Rebecca quando ela saia para velejar. Tudo leva Mrs. de Winter a se lembrar da presença de Rebecca, descrita como a mulher perfeita. As intrigas de Mrs. Danvers chegam ao ponto de levar a jovem esposa a usar o mesmo vestido usado por Rebecca num baile oferecido pelo marido. Isso causa uma grande crise entre o casal. No dia posterior ao baile, um barco é levado pela maré até a praia e a polícia reconhece ser o barco no qual Rebecca morreu. Seria uma situação muito simples, não fosse o fato de Max ter reconhecido um corpo de mulher na época da tragédia como sendo o corpo da sua esposa.Max revela a Mrs. de Winter que a primeira esposa não morreu afogada, pois ele mesmo a matou com um tiro naquela cabana e a colocou no barco lançando-o ao mar. A jovem descobre então, a verdadeira personalidade de Rebecca, uma mulher promíscua que tinha vários casos extra-conjugais, cruel e hipócrita. Max não vai preso, já que o juiz encerra o caso como suicídio, mas um primo e amante de Rebecca não se conforma e exige que o caso tome outro rumo. Eles leem na agenda da falecida esposa, um telefone de um médico que ela visitou no dia da sua morte, eles vão até ele e descobrem que Rebecca tinha câncer, e desta forma o caso é encerrado como suicídio.Ao chegarem próximos a Manderley, eles veem um clarão ao longe e percebem que a casa foi incendiada. Era o fim de Manderley.A simbologia presente no romance é bem clara...quando a jovem Mrs.de Winter ouvia o barulho do mar, ela lembrava-se que Rebecca ainda estava naquela casa e que todos viviam como se ela estivesse viva. O casal só consegue ser feliz, quando o corpo da primeira esposa é encontrado e levado para ser sepultado longe dali. enquanto isso não acontecia, a jovem esposa vivia sempre à sombra da outra.




Admirável Mundo Novo - Aldous Huxley


O enredo do romance gira em torno de uma sociedade totalmente diferente da que conhecemos hoje. Nesta sociedade, as pessoas só devem se preocupar com a coletividade. É um grande erro manter qualquer tipo de individualidade e as pessoas não devem ter valores sentimentais uns com os outros. Ninguém deve valer muito, portanto, não se pode chorar a morte ou a perda de ninguém. Com base nisto, as famílias são abolidas e as crianças são criadas em laboratório e crescem educadas em grandes centros. A palavra “Mãe” chega a ser obscena e a promiscuidade é vista com bons olhos, já que não se deve pertencer a uma só pessoa. Para que não haja sofrimento, quando se sentem abaladas, as pessoas utilizam o “soma” um tipo de droga que trás uma sensação de bem estar. A história se passa em Londres e começa com um grupo de estudantes que vai visitar um centro de criação. O diretor apresenta a eles o local e através das suas explicações podemos compreender as mudanças ocorridas. Nesta ocasião, percebemos a troca de valores existente entre a nossa sociedade e aquela presente no romance. Crianças de oito ou dez anos correm nuas pelo local e fazem brincadeiras sexuais, a divisão de classes começa desde o momento em que são separadas as castas, enquanto dormem, as crianças ouvem mensagens que lhes ensinam a se conformar com a sua realidade. Elas aprendem a respeitar o “Ford” ( Lord). Entre as situações mais assustadoras, está o momento no qual o diretor leva os estudantes para uma sala na qual bebês destinados a ser da casta inferior e se dedicar aos serviços braçais engatinham até belos quadros e livros infantis. A tocá-los elas recebem choques e choram, repetida a experiência duas vezes, na terceira os bebês se negam a aproximar-se dos quadros e livros. Desta forma, eles crescem detestando a arte e se conformam com o seu papel na sociedade. Dentro deste meio existe um homem que não se adapta a vida naqueles termos. Ele é Bernard Marx e muitos afirmam que ele recebeu álcool no sangue e por isto tem um comportamento estranho e fisicamente é diferente dos outros Alfa-Mais ( a casta superior). A jovem Lenina que também é uma Alfa-Mais às vezes tem dificuldade em aceitar a promiscuidade que lhe é proposta. Ela acaba se envolvendo com Bernard e os dois viajam para o Novo México juntos. Lá eles conhecem um lugar selvagem que não foi adaptado ao novo sistema e possui muitos índios e pessoas que vivem, segundo eles, como “selvagens”. Lenina fica chocada com o que vê. Mulheres que geram os próprios filhos, casais que pertencem um ao outro, rituais que envolvem dor e sentimentos fortes e o mais surpreendente: um homem chamado John que é filho de um diretor do centro e uma jovem que se perdeu entre os selvagens quando estava grávida. O nome dela era Linda e ela, diferente das pessoas que Lenina conhecia estava velha, gorda e acabada. O “selvagem” como passa a ser chamado, conta para Bernard detalhes da vida naquele lugar e ele decide leva-lo até Londres para que ele pudesse conhecer a sociedade na qual Linda sempre falara. O selvagem logo se apaixona por Lenina e embarca junto com a mãe e o casal para Londres. Lá chegando ele vira atração e as pessoas ficam curiosas para conhecer o selvagem. Bernard logo ganha notoriedade por tê-lo descoberto. Mas John não consegue se adaptar a uma vida “sem princípios”. Ele não consegue aceitar que não deveria sofrer ao ver sua mãe morrer, não consegue aceitar a promiscuidade na mulher que ama e logo tenta uma revolução que é domada em pouco tempo. Ao perceber que John, Bernard não conseguem se desvincular da individualidade, o representante do “Ford” manda Bernard para o exílio na ilha da Islândia, pois, quem não consegue viver em sociedade de deve ser isolado. John que não pertence aquele lugar pode ficar livre e resolve morar no campo longe da agitação de Londres. A vida calma, porém, não dura muito já que ele é descoberto pela imprensa e não agüentando o assédio, acaba se suicidando. É interessante notar que existe uma troca de valores expressiva no romance. O selvagem para eles, lê as obras de Shakespeare e tem valores familiares e sentimentais muito apreciados na nossa sociedade. Através desta ficção científica, Huxley contraria a idéia de que se todos fossem felizes e não tivessem problemas a sociedade seria perfeita. Todos merecem viver grandes emoções, ler obras da Literatura e se emocionar, viver o amor e até mesmo se decepcionar com ele. Viver de uma forma fabricada pode garantir no máximo uma felicidade superficial gerada e mantida através de substâncias que tornam o ser humano dependente. A visão aterrorizante da sociedade se deve também pelo fato da dominação acontecer culturalmente. Para que haja o totalitarismo é preciso dominar a inteligência e a forma de pensar dos cidadãos, para que eles caiam num conformismo enganador que propõe uma felicidade estúpida e passiva. Huxley foi um escritor a frente do seu tempo, falou sobre a uniformização do ser – humano e utilizou para compor seu romance, um nível científico desconhecido para a sociedade de 1932. Ele alerta para que as pessoas tomem cuidado e reflitam sobre o mundo que querem para o futuro: viver de verdade ou ser passível frente a vida?

AS VIAGENS DE GULLIVER – JONATHAN SWIFT

O romance “As viagens de Gulliver”, do irlandês Jonathan Swift, foi lançado no ano de 1793. A história do livro, como o próprio nome indica, é cheia de aventuras e situações intrigantes. O médico aventureiro Lemuel Gulliver que recém-casado, sai em viagem de barco e acaba naufragando numa região remota da terra: Lilliput, um país governado por um rei cruel e habitado por pessoas minúsculas, o que garante à Gulliver o apelido de “Homem Montanha”.Esse país vive em guerra com Brefuscu, o país vizinho habitado também por pessoas muito pequenas. O estado de guerra entre os dois países, facilita a fuga de Gulliver, que encontra um navio e para provar a veracidade da sua história mirabolante, mostra aos navegantes os animais que trazia no bolso e era cortesia do rei de Brefuscu. Essa foi a primeira viagem de Gulliver.A primeira viagem é uma sátira cruel a Inglaterra e a sociedade contemporânea do escritor Swift.Para quem pensa que depois dessa aventura o nosso aventureiro se contenta em ficar na sua casa na Inglaterra, com sua esposa e filhos, vem uma surpresa, Gulliver sai novamente em viagem pelo mar.Dessa vez, ele novamente naufraga ( os naufrágios ficaram famosos na Literatura Inglesa depois de “Robinson Crusoé” de Daniel Defoe). A segunda localidade onde o médico vai parar é contrastante com Lilliput. Chama-se Brobdingnag e é habitada por gigantes, o que torna Gulliver um ser muito inferior, no tamanho. Além de tudo, o país é governado por um rei e leis muito justas.Nessa terra o contraste com a Inglaterra é explícito, levando Gulliver a tomar partido de seu país. Isso faz com que ele seja hostilizado pelo povo.Ele é hospedado primeiramente, na casa de um senhor, onde conhece uma menina muito carinhosa, Glundalclitch que lhe serve de enfermeira e protetora. O pai da menina, porém, o vê como propriedade a ser exposta e o vende para a rainha, permitindo que a pequena enfermeira o acompanhe.O rei passava horas conversando com o “pequeno” Gulliver e fazendo perguntas sobre a Inglaterra.Um dia, quando a pequena enfermeira estava doente, Gulliver foi levado por outro pajem até o mar e conseguiu escapar. Novamente no mar, ele é salvo por um navio inglês.Seguem algumas viagens mais desconhecidas, para lugares extremamente estranhos. Entre eles, está Laputa uma ilha flutuante, onde os habitantes têm conhecimentos de matemática e de música.Gulliver pensava em voltar para a Inglaterra, mas, a falta de um navio o fez visitar a ilha de Glubboubdrib a ilha dos feiticeiros ou mágicos. Nessa ilha o governador tinha o poder de chamar mortos à vida e exigir que trabalhassem por 24 horas. O nosso aventureiro ficou assustado no começo, mas, se acostumou e até chamou alguns famosos como César, Pompeu, Descartes, Homero, entre outros, para lhe esclarecer dúvidas sobre história antiga e moderna.Depois da estada nesse lugar, Gulliver resolve ir até o Japão e no caminho, vai parar na ilha de Struldbrugs onde os habitantes tinham a benção(ou maldição) de viver eternamente. O aventureiro pensa em se tornar um deles, mas, vê as desvantagens que isto lhe trará e desiste da idéia. Ele vai para o Japão e lá embarca num navio rumo à Inglaterra. Assim terminou a terceira viagem de Gulliver.A quarta e última viagem acontece porque Gulliver está cansado de ser médico de bordo e aceita ser capitão de um navio, no caminho é traído por um dos seus homens e deixado num bote no mar. Ele chega a Houyhnhnms e acredita estar louco quando vê que o local é governado por cavalos que agem racionalmente. Gulliver pensa em ficar para sempre nesse local, mas vai embora. E assim terminam as “viagens de Gulliver”.O contato com a humanidade subdesenvolvida e selvagem na terra governada pelos cavalos, faz com que Gulliver tome asco dos seres humanos que encontra no retorno da última viagem. Ele não consegue nem mesmo tocar sua esposa. Erroneamente classificado como Literatura infanto-juvenil, "As Viagens de Gulliver" apresenta questões políticas muito importantes e por isso, permanece interessante até os dias atuais.

São Bernardo - Graciliano Ramos

“São Bernardo” é um romance marcante de Graciliano Ramos no qual o social e o psicológico se fundem, construindo uma narrativa densa e comovente, que provoca no leitor emoções diferentes em respeito dos personagens. Desta forma, é uma obra de profunda análise das relações humanas. O protagonista-narrador é Paulo Honório que conta a sua vida, desde a infância pobre na qual trabalhou como guia de um cego e vivia acolhido por uma preta velha. Ele sente uma necessidade de escrever para compreender os fatos não só da sua vida, mas, também da sua esposa Madalena. Na juventude, Paulo Honório foi preso por esfaquear um homem, durante uma briga por mulher. Ao sair da cadeia, ele passa a viver de pequenos biscates. Mas, logo descobre a sua astúcia para os negócios, astúcia que envolve a sua falta de escrúpulos em tomar atitudes desonestas, trapacear e se aproveitar de pessoas em desespero. Desta forma, ele consegue comprar a fazenda São Bernardo na qual ele havia trabalhado anos antes. O proprietário Luís Padilha era um jogador compulsivo e acaba tendo de vender a propriedade por um preço abaixo do custo. Já dono de São Bernardo, Paulo Honório trava uma briga com o vizinho Mendonça por causa de demarcações de terra. O vizinho estava avançando sobre as terras de São Bernardo. Ele acaba sendo assassinado enquanto Paulo conversa na cidade com o padre sobre a construção de uma capela na fazenda. A fazenda vive um grande período de crescimento, invade terras vizinhas, a criação se diversifica, a produção aumenta, constrói-se um açude, uma capela e até mesmo uma escola é construída no intuito de ganhar favores do governador. Padilha é convidado a ser professor da escola. Sabendo da necessidade de um herdeiro, Paulo Honório procura uma esposa e a procura como se ela fosse um objeto, idealizando uma mulher morena, saudável que pudesse lhe dar um filho também saudável e forte. Porém, ele conhece Madalena uma moça loura, professora da escola normal que vive com uma tia na cidade. Tratando o casamento como um negócio, ele mostra a ela as vantagens de se casar com um grande proprietário de terras, embora não existissem ainda sentimentos fortes entre eles. Eles se casam e Madalena vai viver na fazendo juntamente com a tia. Mas a vida com Madalena não seria um mar de rosas e Paulo Honório descobre isto logo nos primeiros dias de casado. A esposa era uma mulher humanitária e de opiniões próprias, não concorda com a forma como o marido trata os empregados, não lhes garantindo educação e explorando-os o máximo possível. Ela se torna a única pessoa que Paulo Honório não consegue transformar em objeto e isto o deixa muito revoltado. Madalena é dotada de um leve ideal socialista e se torna um obstáculo para a dominação do marido, acostumado a ser o senhor e dono de tudo e todos que vivem na fazenda São Bernardo. A única satisfação que Madalena proporciona ao marido é o filho que espera, um menino como Paulo Honório sempre quis. Percebendo que não consegue dominar a esposa e ela lhe foge das mãos, Paulo Honório passa a ter um ciúme doentio dela. Ela constrói um círculo de ofensas e humilhações que transformam a vida de Madalena num suplício fazendo com que se torne insuportável a convivência entre os dois. Ele imaginava que a mulher mantinha um caso com o professor Padilha, com um velho que morava na fazenda e até mesmo com os empregados que faziam os serviços na lavoura e eram chamados por Paulo Honório de “bichos”. Madalena também descobre o passado do marido, suas trapaças e desonestidades, e até mesmo a morte do vizinho Mendonça. Os dois têm discussões freqüentes e muito violentas e certo dia, quando Paulo Honório chega a casa, nota uma agitação e pessoas no quarto do casal, a tia de Madalena chorava muito, e ao aproximar-se Paulo Honório percebe que a esposa suicidou-se. Paulo Honório sente um grande vazio depois da morte da esposa. Os empregados pouco a pouco abandonam a fazenda e os amigos não fazem mais visitas freqüentes. A tia de madalena resolve ir embora e ele fica sozinho com o filho que para o seu desgosto, não sente carinho nenhum pelo pai. A fazenda já não prospera como antes e Paulo Honório percebe que construiu está destruído e ele mesmo se encarregou de destruir as pessoas que o rodeavam. As últimas páginas do romance trazem uma retrospectiva cheia de reflexões feitas por Paulo Honório que assume a sua culpa, mas, também afirma que teve a influência do meio no qual viveu. Uma vida agreste que lhe proporcionou uma alma agreste, endurecida, incapaz de se comover e ter atitudes sensíveis. É interessante quando Paulo Honório faz referência aos empregados que possuía, dizendo que eram “bichos”. Bichos domésticos, bichos que trabalhavam na lavoura... é um exemplo de como Paulo Honório transformava as pessoas em objetos que lhe serviam. A exemplo de outros grandes latifundiários nordestinos, o proprietário de São Bernardo explora os empregados e faz com que eles continuem sempre numa situação de vida estática, sem possibilidade de melhora até mesmo para seus filhos, que crescem na perspectiva de seguir o mesmo caminho dos pais. A situação agrária no Nordeste e em outras partes do interior do Brasil está presente no romance “São Bernardo”. A questão psicológica no romance é muito densa e complexa. O suicídio é o fim natural para uma mulher como Madalena, uma alma sensível que vê o mundo com olhos críticos e é obrigada a conviver com a aridez e a falta de princípios do marido, além de ter a sua dignidade posta em dúvida por ele. O feminismo ganha forças na imagem de Madalena. Paulo Honório e a fazenda São Bernardo se fundem e um reflete o outro. Quando ele consegue comprar a propriedade ela está em condições péssimas, e com seus métodos pouco ortodoxos, consegue levantá-la. Quando a vida de Paulo Honório se torna mais vazia, ele é abandonado por todos, a fazenda vive um período de decadência e se torna o único refúgio daquela alma agreste, que foi obrigada a conviver com a aridez da vida e da terra e por isto se tornou árida também, incapaz de apreciar as pessoas pelo que elas são e incapaz de ver a mulher sensível que Madalena era. Desta forma, só resta para Paulo Honório lembrar o passado e continuar vivendo a solidão e o vazio que ele mesmo provocou.

JORGE DE LIMA (1893-1953)


Jorge Mateus de Lima nasceu em União, no interior de Alagoas, filho de um senhor-de-engenho de antiga linhagem. Passou sua infância entre o engenho e a cidade natal e realizou seus estudos secundários no colégio Diocesano de Maceió. Em 1907 compôs um poema de teor parnasiano que se tornou célebre, O acendedor de lampiões. Começou a estudar Medicina em Salvador e formou-se no Rio de Janeiro. Voltou para Maceió onde exerceu a profissão de médico e elegeu-se deputado estadual. Em 1930, mudou-se definitivamente para o Rio de Janeiro, tornando-se professor de Literatura Brasileira na Universidade do Brasil. Após a queda do Estado Novo, militou na política, elegendo-se vereador no antigo Distrito Federal, pela UDN. Faleceu em 1953.
Obras principais: XIV alexandrinos (1914); Novo poemas (1929) ; Tempo e eternidade (em colaboração com Murilo Mendes,1935); A túnica inconsútil (1938); Poemas negros (1947); Invenção de Orfeu (1952).

A carreira poética de Jorge de Lima apresenta uma evolução contínua, fazendo que se possa dividi-la em três momentos ou fases. A primeira – e a de menor importância – se estabelece a partir de rígidos princípios parnasianos. A segunda é a fase nordestina por se vincular ao universo regional alagoano. E a terceira é a fase religiosa, já que o autor impregna seus poemas de conteúdos místicos e metafísicos.

BERENICE – Edgar Allan Poe

Incluído entre os “contos de horror, de mistério e de morte”, “Berenice” é um conto que representa perfeitamente a obra de Edgar Allan Poe, cercada de suspense e terror.
Um jovem chamado Egeu, que é o narrador personagem, inicia o conto falando sobre sua própria personalidade e sua relação com o solar em que viveu. Naquele solar ele nasceu e sua mãe havia morrido. Vivia junto dele no solar paterno, a prima Berenice.
Enquanto ele, com suas preocupações minuciosas, era tido como um jovem doente e problemático, a prima irradiava vida e alegria.
Em um determinado período da sua vida, a situação mudou. Berenice sem explicação, ficou muito doente e perdeu a alegria de viver, sua morte era dada como certa.
Sabendo que a prima sentia algo por ele e lembrando-se do seu amor por Berenice nos dias radiantes, o jovem resolveu pedi-la em casamento, já que via a morte se aproximar cada vez mais da menina.
Um dia, enquanto Egeu estava no escritório da casa, Berenice surgiu na entrada e parou na porta. Ela estava com a aparência descarnada, pálida, ferida, mais parecida com um vulto que com um ser humano.
Foram minutos de contemplação nos quais Egeu notou algo de singular na face de Berenice: seus dentes, mostrados num sorriso que contrastava com o resto do seu corpo.
Enquanto a pele era pálida, cheia de doenças, os dentes eram brancos, limpos, brilhantes, pareciam marfim.
Depois deste episódio, começou a brotar dentro do peito do rapaz, uma obsessão pelos dentes de Berenice e todo o seu tempo era gasto em pensar e lembrar deles. Era uma volta a vida radiosa transmitida por Berenice nos dias saudáveis.
Chegou o dia fatal, no qual Berenice partiu. Enquanto as pessoas da casa preparavam o enterro, Egeu foi ver o corpo da prima. Ao ver o rosto, ele ficou consternado, pois, lhe pareceu vê-la sorrir, assim como pareceu que ela havia mexido um dedo da mão. Assustado, ele saiu correndo do quarto e acabou dormindo.
Quando acordou, já era meia-noite, e ele não se lembrava bem o que havia acontecido antes de pegar no sono. Lembrava-se apenas de que a esta hora, a prima já estava sepultada.
Ele notou uma caixa em cima da mesa, e não se lembrou de te-la colocado ali.
Foi então, que ouviu barulho na casa. Eram os familiares que gritavam. Um empregado entrou no escritório, onde ele havia adormecido, e disse-lhe que o tumulo de Berenice fora violado e o corpo, que ainda vivia, havia sido desfigurado.
Notou então, as nódoas de sangue na roupa de Egeu e suas mãos feridas com unhas humanas. O jovem perplexo entrou em desespero maior quando viu uma pá no escritório. Olhou para a caixa na mesa, mas, não conseguiu abrir, acabou por derrubá-la. Neste momento, caíram de dentro da caixa, os brancos e brilhantes dentes de Berenice, que tanto o haviam fascinado.


Contexto histórico

Quando Edgar Allan Poe nasceu, 1809, os Estados Unidos da América não eram a grande potência cultural da língua e literatura inglesa. Embora grandes escritores já tivessem marcado a Literatura norte-americana, como Nathaniel Hawthorne, por exemplo, cabia a literatura produzida na Grã-Bretanha um papel de destaque entre a literatura mundial.
Coube a Poe, então, o mérito de haver renovado o conto e o romance de terror, servindo de influência até para escritores ingleses, já que o romantismo pessimista inglês teve considerável contribuição de Edgar Allan Poe.
Cabe a ele também, a criação do gênero policial, com seus contos de dedução, carregados de suspense. Entre estes, merece destaque “Os crimes da Rua Morgue”, no qual ele cria a imagem do detetive que conhecemos hoje. Tudo isto, por meio do detetive francês Dupin, que aparece em outros contos também.
Por tantos méritos, Edgar Allan Poe mereceu o reconhecimento de grandes autores da literatura mundial, como Baudelaire, Mallarmé e Valéry que o declarou um dos seus mestres.



Personagens

O conto Berenice tem como protagonista o narrador-personagem Egeu. Alguns personagens, como o pai e a mãe do narrador, são apenas citados, não se caracterizando como personagens secundários, mas, como pano de fundo.
É interessante notar que Poe caracteriza um personagem apenas pela sua profissão. O empregado que participa da cena final é um exemplo disto.
A personagem que da nome ao conto, Berenice, em nenhum momento toma a palavra, servindo de esboço para as obsessões e reflexões do protagonista.

Foco narrativo

O narrador volta os olhos para a figura atormentada de Egeu, com seus dilemas e sua estranha adoração pelos dentes da prima.

Tempo e espaço

O tempo no ínicio, transcorre normal, com Egeu lembrando fatos e contando-os. A partir da estranha morte de Berenice e dos acontecimentos seguintes, o tempo parece ser psicológico, já que não sabemos ao certo o que de fato aconteceu, a morte e o possível sepultamento da moça ainda viva, são envoltos em mistério.
Tema

É difícil encontrar um tema para os contos de Edgar Allan Poe, já que ele possuía uma habilidade incrível para criar histórias complexas e personagens psicologicamente abalados.
No conto “Berenice”, o tema é a mente humana, com suas obsessões e sua complexidade. Complexidade que leva um jovem fraco a tomar coragem e violar um tumulo, para conseguir o objeto dos seus desejos: os dentes da prima Berenice.

Edgard Allan Poe


Edgar Allan Poe nasceu no ano de 1808 em Boston Estados Unidos, e faleceu no ano de 1849.
Poe teve uma infância cheia de perdas e se tornou um adulto de personalidade confusa. Casou-se com uma prima muito jovem, chamada Virginia. Acredita-se que na época do casamento, a noiva tinha apenas treze anos.
Virginia contraiu tuberculose e isto tornou a vida de Poe ainda mais agonizante e difícil, contribuindo muito para que o vício do álcool se apoderasse cada vez mais dele.
Muitas notas biográficas apresentam Poe como uma vítima de uma vida conturbada e dominada pelo alcoolismo e pelo fracasso. É necessário ressaltar, que todos estes percalços, não o impediram de se tornar um grande autor. Pelo contrário, sua personalidade conturbada se evadiu em contos e poemas. Entre estes poemas, um dos mais famosos e traduzidos da literatura mundial: “O Corvo”.
Para muitos escritores, Edgar Allan Poe é o primeiro autor de contos propriamente literários. Foi ele quem elaborou uma exposição mais clara das características e das condições que o conto moderno deve reunir.

Um Certo Capitão Rodrigo

O povoado de Santa Fé nunca mais seria o mesmo após a chegada do Capitão Rodrigo. Quando ele entra na venda da cidade ele já causa confusão com o futuro cunhado que se sente ofendido pelos versos que o Capitão declama. O poder de sedução do Capitão Rodrigo não se restringe as muitas mulheres que ele consegue conquistar, pois, ele acaba ganhando a confiança de muitos no povoado, até mesmo do padre, embora seu comportamento fosse o pecaminoso e anticristão, chegando até a fazer piada com a Igreja.
Quando conhece a jovem Bibiana no cemitério em frente ao túmulo da avó Ana Terra, o Capitão se sente atraído pela inocência e a beleza da menina, que sente o mesmo por ele.
Depois de Algumas reservas do pai de Bibiana, Pedro Terra ( filho de Ana Terra e Pedro Missioneiro), eles se casam, com a ajuda do padre da cidade que interfere mesmo sabendo que o Capitão Rodrigo podia vir a ser um péssimo marido.
Depois da lua-de-mel e da primeira gravidez da esposa, que dá a luz a um menino chamado Bolívar, o Capitão começa com suas traições, esporádicas no princípio, até o dia em que resolve ter uma amante índia fixa o caso mais polêmico: a noite de amor no cemitério com uma imigrante alemã Helga.
Quando a filha do casal morre, o Capitão Rodrigo não está presente, pois, se tornou um jogador chegando a passar noites inteiras fora de casa.
Quando nasce a terceira filha do casal, o Capitão sai para a Revolução Farroupilha e Bibiana cada vez mais se encerra na sua sina, fiando na velha roca da avó e esperando a volta do marido.
O retorno do Capitão Rodrigo acontece e no mesmo dia, ele é assassinado. No final do romance Bibiana está com os filhos observando o túmulo do marido, ao lado do túmulo da avó. Ela pensa na sua realidade, agora com dois filhos para criar mas, sente o conforto de saber que de uma forma ou de outra, seu grande amor sempre estaria ao seu lado. “De qualquer forma, naquele dia, o Capitão Rodrigo tinha voltado para a casa”. A frase de Bibiana explica o seu caráter submisso e fiel, herdado da avó Ana Terra que continuou fiel ao pai de seu filho, mesmo após a sua morte.
“Um Certo Capitão Rodrigo” tem como substrato histórico a emergência e apogeu dos gaudérios, a Revolução Farroupilha e a chegada dos primeiros imigrantes alemães ao Rio Grande do Sul.
O Capitão Rodrigo é amigo de Bento Gonçalves, grande líder da Revolução, por isto sai em guerra e acaba sendo morto ao voltar dela.
O Capitão Rodrigo é uma figura dotada de encantos físicos e também atraí por sua personalidade forte, valente, que personifica o homem gaúcho do século XIX. Os defeitos do capitão são muitos. Ele é machista, vadio, mulherengo, infiel, entre outros, mas, isto não diminui o encanto que ele causa para as mulheres.
Críticos afirmam que não era a intenção de Érico Veríssimo transformam o Capitão Rodrigo no “Símbolo Gaúcho”. A personalidade que misturava fanfarrice, bravura, generosidade e pensamento libertário, não condiz historicamente com os gaudérios da época. Os livros de história os descrevem por vezes como homem “sem rei nem lei”.
O Capitão possui uma paixão muito forte pelos prazeres da vida, inclusive os da cama e mesa. Ele vive a vida de forma intensa e age muitas vezes como um Aquiles, acreditando que só a guerra dá sentido á vida dos homens. Desta forma, é risível ver o Capitão Rodrigo, em certo período, transformado em dono de venda, com uma vida estática e doméstica. São características que trazem ao personagem um tom épico.
A partir do Capitão Rodrigo traça-se um modelo para os Cambarás futuros. Os futuros descendentes seguem a doutrina gaudéria de Rodrigo.
Bibiana, por sua vez, representa o estereótipo feminino no romance, sempre obstinadas, caladas, fiéis, odiando a guerra, mas, aceitando a opinião dos maridos sobre ela, trabalhadeiras, parteiras, respeitando os mortos e lutando para sobreviver.
As mulheres da família Terra, por sua vez, são dotadas de uma submissão aos homens e ao amor, ao passo que possuem uma força extraordinária perante a vida e as lutas que ela propõe. Quando Bibiana nasce, a avó Ana Terra já enxerga o seu futuro: “Mais uma para sofrer nesta vida”. E o sofrimento acontece mesmo na vida de Bibiana, mas, é um sofrimento consciente que ela mesma escolheu.
Nota-se uma característica presente em outras obras de Érico Veríssimo, o anti-machismo defendido pelo autor. Nos romances da primeira fase os homens são sempre confusos e têm medo de enfrentar a vida e os problemas, já as mulheres são fortes psicologicamente e conduzem a família e os maridos.
Pode-se dizer que o tempo está associado aos homens, na medida em que estes antecipam o trabalho daquele, contribuindo, através da violência sistemática, com a força destruidora a que o tempo tudo submete.
Já o vento relaciona-se simbolicamente com as mulheres, porque estas representam a resistência humana contra as guerras e o instinto da morte. Para isso, Ana Terra, Bibiana Terra e Maria Valéria Terra valem-se da memória (sempre deflagrada em noites de vento). Atiçada pelas ventanias, a memória feminina restabelece lembranças dos que já partiram e, ao evocá-los, injeta neles um sopro de vida. Lembrar é, pois, resistir ao sem-sentido do tempo e protestar contra a morte.
Por isso, no final da trilogia, o escritor Floriano Cambará - sentindo-se mais próximo das recordações femininas que da arrogância guerreira dos homens - resolve salvar a memória que as mulheres conservaram de todas as experiências fundamentais da família Terra-Cambará. E registra, então, sob a forma de um romance, o mundo passado que o tempo, inexoravelmente, transformaria em pó, em nada. Para o escritor, só a arte responde à falta de significado da vida humana. Só a arte tem o poder de resistir à voragem do tempo.
As primeiras páginas do romance de Floriano Cambará terminam O tempo e o vento:
"Era uma noite fria de lua cheia. As estrelas cintilavam sobre a cidade de Santa Fé, que de tão quieta e deserta parecia um cemitério abandonado."
Fechando-se sobre si mesmo, o romance termina da mesma forma que, duas mil e duzentas páginas antes, havia iniciado: "Era uma noite fria

Érico Veríssimo


Érico Veríssimo nasceu na cidade de Cruz Alta, Rio Grande do Sul, no dia 17 de dezembro de 1905. Assistiu a ruína econômica de sua família durante a infância e por isso, teve que exercer várias funções modestas.
Casou-se no ano de 1931 com Mafalda Halfen Volpe e transferiu-se para Porto Alegre. Esteve ligado à Editora Globo na qualidade de conselheiro literário, até 1950. Em 1943 viajou pela primeira vez para os Estados Unidos e a partir de então, dedicou-se a divulgar a cultura e a literatura brasileira no exterior em conferências e cursos em vários países. Seu prestígio internacional cresceu a tal ponto que, em 1953, por indicação do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, assumiu a direção do Departamento de Assuntos Culturais da OEA, cargo que exerceu por três anos em Washington D.C.
Érico Veríssimo recebeu muitos prêmios, entre eles, o prêmio Jabuti em 1966, Personalidade literária do ano em 1972... suas obras foram traduzidas para vários países.
Era um viajante apaixonado e esteve também na Grécia, Oriente Médio e Israel e retornou várias vezes à Europa e aos estados Unidos.
O escritor faleceu subitamente de infarto no dia 28 de novembro de 1975, em Porto Alegre, enquanto se ocupava do segundo volume de suas memórias, “Solo de Clarineta”.

O Carteiro e o poeta

O filme italiano “ O carteiro e o poeta”, traz uma prova e amor `arte, de que a simplicidade, unida ao amor e a ânsia de aprender, pode render bons frutos, até mesmo a descoberta de um grande amor.
Numa ilha de pescadores italiana, o poeta chileno Pablo Neruda, por suas idéias comunistas fica exilado, às vésperas de receber o prêmio Nobel de Literatura. Lá ele encontra o humilde carteiro Mário Ruoppolo, que fica extasiado com a presença de alguém tão “importante”, com uma capacidade enorme de fazer algo que estava tão longe da ilha, “ a poesia”. Aos poucos ele se aproxima do poeta e descobre nas coisas mais simples da sua vida o amor pela poesia.
Quando se apaixona por Beatrice, Mário utiliza a poesia para conquistá-la e isso acontece entre metáforas e palavras poéticas; até mesmo o casamento, que tem Pablo Neruda e a esposa como padrinhos.
Neruda vai embora e Mário que aprendeu com ele as idéias do comunismo passa a se interessar por suas idéias e morre durante uma manifestação, onde iria ler um artigo escrito por ele mesmo. Isso acontece antes mesmo de seu filho nascer.
Lançado em 1995, com direção de Michael Radford e com ótimas atuações de Massimo Troise(carteiro) e Philippe Noiret (poeta), o filme é um importante representante da emoção que o cinema italiano sempre trouxe.
O filme pode ser utilizado em sala de aula para aproximar a poesia dos alunos, mostrar que ela não é “algo de outro mundo”, podendo ser composta só por “gênios”. Embora para lutar por algo que acreditam, as pessoas têm de pagar algumas vezes, um alto preço, como Mário que deu a própria vida , todos têm o direito de escolher entre a luta e a conformidade.

Ao mestre com carinho

O filme “Ao mestre com carinho” é um clássico do cinema mundial, o primeiro de muitos que vieram depois, com a fórmula do professor que consegue salvar a turma dos rebeldes. Mas, o filme consegue fugir aos lugares-comuns e interagir com o público da época.
A história acontece na Inglaterra dos anos 60. Um professor negro norte-americano, é convidado à lecionar numa sala com a maioria dos alunos brancos que, tem problemas com rebeldia, problemas familiares e sociais, entre outros.
O professor enfrenta muitos problemas, entre eles, o preconceito racial, o interesse de uma das alunas por ele, a briga com um dos alunos. Aos poucos ele consegue ganhar a confiança dos alunos e os ajuda até mesmo em problemas reais. Na formatura ele ganha uma homenagem, uma das alunas canta a lendária canção” To Sir with love”.
Das muitas mensagens que o filme traz, uma muito importante é a de que não existem alunos “sem solução, perdidos”, é muito importante que o professor seja respeitado, respeite os alunos e cultive a alto-estima, até mesmo numa sala de aula problemática.
O filme foi um grande sucesso de bilheteria, de público e de crítica, dando ao ator Sidney Portier o Oscar e colocando seu nome na história, como o primeiro ator negro a ganhar o prêmio da Academia de Cinema.
É uma prova de que sempre existe uma possibilidade de mudança, basta acreditar no ser humano e no que há de bom em seu coração.

Sociedade Dos Poetas Mortos

O filme “ A Sociedade dos Poetas Mortos”, dirigido por Peter Weir, no ano de 1989, conta com os atores Robin Williams, Robert Sean Leonard, Ethan Hawke, entre outros.
A sociedade pós-guerra é o cenário para a história emocionante. Alunos dos anos 50 são influenciados pelo professor de literatura que lançando mão das obras de poetas clássicos, tenta estimulá-los a pensar por si próprios. É importante ressaltar que se trata de uma escola conservadora nos Estados Unidos, país que nos anos 50 viveu um período de moralismo acerbado e imposição de regras por meio da educação e do governo.
O professor, recém chegado à escola, encontra alunos que tem de analisae poesias através de um livro, que dá noções de análises como receita, sem espaço para o subjetivismo e a opinião dos estudantes. Além de situações individuais, como a de um jovem que sonhava ser ator de teatro, mas, é impedido pelo autoritarismo do pai.
Usando o ideal “carpe dien” (aproveite o dia), o professor os incita a pensar por si próprios, lutar por seus ideais, sem desprezar os grandes clássicos, mas mostrando que eles podem serem vistos de outra forma e não impedem uma visão íntima, pessoal, pensamentos próprios, visão de vida mais ampla.
O filme pode ser usado em sala de aula para motivar os alunos a manifestar suas idéias, seus pensamentos, a ver a literatura de outra forma, não como alguma coisa científica, que deve ser analisada como uma bula de remédio, sem emoção, nem subjetivismo. Pode-se apresentar textos de autores famosos e pedir a opinião dos alunos, deixar que exponham as idéias.
Com um final emocionante que inclui a expulsão do professor, por suas idéias, da escola; e o suicídio de um dos alunos que não era compreendido pelo pai, o filme comove e nos leva a refletir sobre o tradicionalismo na educação e suas conseqüências na vida dos alunos. Definitivamente, um novo clássico do cinema.

A Herdeira (Washington Square) - Henry James.


Clássico da Literatura norte-americana, escrito em 1881. Este livro coloca Henry James no patamar de "Pai" da literatura feminista.



O romance “A Herdeira” faz parte da primeira fase da obra de Henry James e foi escolhido para análise porque condensa na sua narrativa algumas importantes características da forma de escrever tão peculiar do autor. Nele é imortalizado o local de nascimento do autor “Washington Square” nome original do romance. Na Nova York da última metade do século XIX a sociedade ainda era muito provinciana e fechada. Pertencia a esta sociedade um médico muito próspero na vida profissional, mas, com uma vida pessoal cheia de perdas. Era o Doutor Austin Sloper que se casou por amor aos vinte e sete anos com a rica Senhorita Catherine Harrington. Quando nasceu o primeiro filho do casal, um menino, Sloper acreditou que a criança prometia muito, mas, o primogênito acabou morrendo aos três anos de idade, embora lhe fossem dedicados todos os cuidados maternos possíveis e também todos os cuidados médicos. A segunda criança nasceu algum tempo depois e para grande decepção daqueles que esperavam um outro menino em substituição da criança morta, nasceu uma menina. Para maior sofrimento do Senhor Sloper, uma semana após o nascimento da filha, Catherine ficou muito doente e faleceu. Deram à menina o mesmo nome da mãe e o jovem pai convidou sua irmã viúva, a Senhora Penniman, para ajudar na educação da menina. Ele possuía outra irmã de sobrenome Almond que era casada com um próspero comerciante e que era a preferida do irmão. O Doutor Sloper embora tivesse sido muito apaixonado pela esposa e fosse considerado um médico para senhoras, nunca se iludira quando as características do sexo feminino e não olhava as mulheres com entusiasmo. Conforme os anos passaram ele percebeu que Catherine não herdara a beleza da mãe nem outros encantos que esta possuía. A menina que quando pequena prometia ser alta parou de crescer aos dezesseis, logo não era alvo de elogios masculinos quanto a beleza nem mesmo quanto ao seu comportamento. Por ser muito tímida e calada ela era considerada uma moça fria e os que não conseguiam enxergar a beleza que havia dentro dela, não notavam também que ela era a moça mais sensível daquela sociedade. Catherine não era nem mesmo considerada inteligente e isto era o que mais decepcionava o pai. Quando Catherine contava com vinte anos, a sua prima Marian Almond casou-se com Arthur Townsend, um jovem rico e de família tradicional. Durante a festa, Marian apresentou à Catherine um jovem primo de seu noivo que desejava conhecê-la: Morris Townsend. Ao contrário do primo, Morris não era visto com bons olhos na sociedade nova-iorquina, já que depois da morte dos pais havia gastado a pequena fortuna deixada por eles em viagens para a Europa. Na conversa com Catherine, Morris se mostra muito gentil e educado, explicando porque andava há muito tempo longe de Nova York e elogiando a jovem Catherine que apesar da timidez e da discrição, se mostrou encantada pelo jovem sedutor. A Senhora Penniman fazia muito gosto do namoro de Catherine e Morris, e depois de alguns encontros, ele pediu a jovem em noivado e ela aceitou mesmo sem comunicar o pai. O Doutor Sloper não estava contente com aquele noivado, pois, sabia da reputação de Morris e acreditava que ele só estava interessado na herança de Catherine. O que aumentava seu medo era o fato de acreditar que a filha não possuía nenhum atrativo para que um homem pudesse se apaixonar por ela sem interesses financeiros. Ele via com muita certeza que Morris não amava Catherine verdadeiramente. Depois de algum tempo de noivado, vendo que Catherine estava muito encantada com o noivo, o Doutor Sloper investiga a vida do futuro genro e descobre coisas ruins a seu respeito. Decidido a impedir a união dos jovens ele diz que se Catherine se casar sem o seu consentimento, não herdará um centavo da sua fortuna. Depois de muita pressão, Morris comunica a sua protetora Senhora Penniman que vai desistir de Catherine, pois, não quer privá-la de nada e um casamento daqueles podia tirar todo o conforto que ela desfrutava ao lado do pai. A despedida dos jovens é comovente já que Morris não afirma em momento algum que é uma separação. Ele diz que vai até Nova Orleãs comprar algodão e não pode levar Catherine com ele, pois, é uma viagem de negócios. Catherine sabe que era a despedida e a cena que fez durante a partida do noivo foi o último lapso de paixão encontrado nela. Muitos anos se passaram e Catherine recebeu outras propostas de casamento, geralmente de viúvos de meia-idade. Não aceitou nenhuma proposta e tornou-se uma solteirona. O Doutor Sloper mais de vinte anos após o corrido, faz Catherine jurar que não se envolverá com Morris enquanto ele estiver vivo. A esta altura, Morris já estava viúvo e não tinha filhos. Quando o pai morre, Catherine encerra-se mais ainda na sua vida solitária, até que certo dia, enquanto bordava na sala, ela tem uma grande surpresa. Com a ajuda da Tia Penniman, Morris vai visitá-la e propõe que os dois sejam amigos. Ela diz que isto não é possível, pois, apesar de tê-lo perdoado, a mágoa ainda era imensa. Para Morris, eles só estavam esperando e aquele era o momento certo para ficarem juntos, mas, contrariando as expectativas, o casal termina o romance separado e Catherine volta ao seu bordado, agora para sempre. O romance é narrado em terceira pessoa, com narrador onisciente que sabe tudo o que se passa no coração e na mente dos personagens. O tempo no qual se passa a história é cronológico. Catherine é uma personagem complexa, como muitos dos personagens criados por Henry James, já que a vida não é simples e as pessoas reais são difíceis de compreender, o autor acreditava que na ficção deveria haver também a complexidade. É também interessante notar que a protagonista se interessa por um homem ganancioso e como outras mulheres dos romances de Henry James, têm um péssimo gosto para escolher seus amores. Estes dilemas femininos transformam Henry James num dos primeiros escritores feministas da Literatura moderna. Catherine no seu silêncio e discrição fala muito mais do que qualquer outro personagem do romance. Através dela, o leitor percebe a sensibilidade do coração humano e a incompreensão que leva homens e mulheres ao isolamento e ao sofrimento. Ela por si, é uma crítica a sociedade superficialista. Escrevendo numa época de Realismo e Naturalismo, Henry James também trouxe ao romance “A Herdeira” uma realidade não idealizada, a começar pela descrição da protagonista que não era bonita, mas era rica. Vem então, a questão muito corrente no século XIX, “o caça-dotes”. Naquela época, as mulheres que se casavam levavam consigo dinheiro, ofertado pela própria família, para começar a nova vida, e para completar, Catherine ainda era a herdeira universal de seu pai. O galante Morris Townsend é um personagem ambíguo que causa as mais diversas reações nos leitores. Sedutor, ele conquista não só Catherine como também os leitores no início do romance, quando consegue tirar a jovem do seu “casulo” de solidão e desamor. É difícil para este leitor seduzido acreditar nas opiniões do Doutor Sloper sobre o futuro genro, além do mais, o médico não inspira muita simpatia pela sua opinião acerca do sexo feminino e sobre a própria filha. Através do Doutor Sloper conhecemos alguns conceitos da sociedade norte-americana na segunda metade do século XIX. O machismo disfarçado de amor paterno faz com que ele não veja atrativos nenhum na filha que permitam que ela conquiste alguém verdadeiramente. A mulher é vista como uma casca de beleza, inteligência ( até o ponto permitido) e elegância. Ele também enxerga a filha de uma forma superficial, não compreendendo que ela é uma moça sensível e por isto não quer se entregar a qualquer amor ou a qualquer casamento sem amor. Temos presente no romance mulheres que aceitaram seu papel superficial na sociedade, como a Senhora Penniman, que depois da viuvez passou a viver na casa do irmão, tomando como vida a vida de outras pessoas. Sabemos por dados biográficos que Henry James viveu por anos na Europa e terminou a sua vida como cidadão inglês. Conhecedor dos “dois mundos” ele podia compará-los e criticá-los. No romance”A Herdeira” a sociedade norte-americana aparece como uma cópia da sociedade inglesa no período vitoriano, cheia de preconceitos e hipocrisia. Trazendo os costumes europeus para as terras norte-americanas, os estadunidenses se tornam “ingleses sem as barbatanas”, e cometem os mesmos erros que muitas vezes eles criticaram. Henry James conseguiu escrever literatura feminina sem se tornar piegas e com personagens e histórias humanas, usou luvas de pelica para esbofetear a hipocrisia da sociedade na qual vivia.

O Morro dos Ventos Uivantes - Emily Brontë


Esta resenha faz parte da monografia entregue no ano de 2006 na UENP de Cornélio Procópio, sob a orientação do Professor Edson Salves que nos ajudou muito na realização da mesma.( Obrigada Teacher!)
Este romance foi escolhido graças a paixão que sentimos ao ler a obra grandiosa de Emily Brontë, obra que não passa despercebida, já que ela é povoada de amores intensos e sentimentos paradoxos ao amor, como a vingança, por exemplo.
A monografia foi intitulada "Catherine e Heathcliff - Paixão e Fúria" e alcançou nota máxima.
Queremos dividir e propagar este maravilhoso enredo, para que ele possa inspirar outros estudantes e apaixonados por Literatura.




Quando Emily Brönte morreu prematuramente aos trinta anos, seu nome já estava garantido entre os maiores da Literatura Universal. A aceitação da crítica só veio póstumamente, mas ao morrer deixando a obra-prima "O Morro dos Ventos Uivantes", ela deixou um legado literário que a consagraria futuramente. Seu único romance garantiu-lhe isso, com uma história de amor que contrariava a conservadora sociedade vitoriana da Inglaterra no século XIX.
Segundo Charlotte Brönte ( a mais velha das irmãs escritoras, Charlotte, Emily e Anne), “O morro dos ventos uivantes” possui uma estrutura selvagem e por isso, muitos críticos o classificaram na época como uma obra rude e até mesmo de mau gosto. Ela justifica as críticas, dizendo que “O morro dos ventos uivantes” é uma obra talhada numa oficina rude, já que as irmãs Brönte eram mulheres do campo e não pertenciam “a grande sociedade inglesa da época’’.
O enredo do romance é uma estranha história de amor, que ao invés de mocinhos apaixonantes e mocinhas inocentes, tem como casal um menino órfão que se torna carrasco da família que o acolheu e uma jovem de caráter forte e personalidade instigante: Heathcliff e Catherine.
A história começa a ser contada no ano de 1801, quando um forasteiro, Senhor Lockwood, aluga a propriedade da Granja Thrushcross, que pertence ao Senhor Heathcliff. Ele vai até a propriedade onde vive Heathcliff, que é denominada “Morro dos ventos uivantes’’. Logo que chega, ele se espanta com o contraste entre a beleza do lugar e o seu proprietário, um homem de pele morena e rude.
A recepção que Heathcliff dá ao futuro inquilino, condiz com sua aparência, ele é áspero e não permite que o forasteiro passe a noite em sua casa, proibindo qualquer empregado seu a acompanhá-lo, sendo que Lockwood não conhece as estradas que estão cobertas de neve.
O forasteiro também não tem uma boa impressão da nora de Heathcliff, a jovem Catherine. Sendo assim, a única que teve piedade de Lockwood foi a criada da casa que ofereceu, mesmo contra a vontade do patrão, um quarto que há muitos anos não era usado na casa. Ela avisou-lhe para tomar cuidado e não deixar a vela próxima da janela, pois os ventos eram perigosos.
Lockwood não toma esse cuidado e tem a curiosidade de olhar livros antigos do quarto. Nesses livros, entre recordações ele lê os seguintes nomes: Catherine Linton, Catherine Earnshaw, Catherine Heathcliff. Logo percebe um galho de árvore que bate na janela, por causa do vento. Os galhos acabam por quebrar a janela e quando Lockwood se aproxima dela braços o seguram com muita força e ele tem um grande susto, pois vê que é um fantasma.
O fantasma é de uma mulher que pede que a deixe entrar. Desesperado, Lockwood diz que não a deixaria entrar mesmo que ela implore por vinte anos, ao que ela responde “faz mesmo vinte anos que vago por aí’’ e desapareceu então.
Heathcliff que acordou com os gritos de Lockwood, vai até o quarto e depois de muitas ofensas e indignação o hóspede pode explicar o que aconteceu, ficando perplexo com a atitude de Heathcliff que vai até a cama, olha pela janela e pede desesperadamente que a sua Catherine venha uma vez mais, o que não acontece.
Ao chegar no outro dia, na Granja Thrushcross, o Senhor Lockwood descobre que terá como criada Ellen (ou Nelly) Dean, uma antiga criada do Morro dos ventos uivantes e que conhece toda a história de Heathcliff. A curiosidade leva Lockwood a pedir que Ellen conte a misteriosa história, enquanto ele se recupera de um resfriado.
A partir daí, temos como narradora Ellen Dean. Ela narra a história com a isenção de uma criada, que apenas aceita os fatos.
Ellen foi criada da família Earnshaw a vida toda, per isso, recorda trinta anos atrás, onde começa a história de amor mais estranha da Literatura Universal.
A propriedade “Morro dos Ventos Uivantes’’ pertencia ao Sr. Earnshaw que tinha dois filhos: o mais velho Hindley e a caçula Catherine. Certo dia ele resolveu fazer uma viagem à cidade de Liverpool e antes de sair, as crianças lhe pediram presentes. Ao chegar a casa, porém, o pai só trouxera um menino enrolado num pano, o que causou irritação e surpresa.
Segundo Sr. Earnshaw, o menino estava abandonado nas ruas de Liverpool e ele o trouxera para ser o novo irmão de Hindley e Catherine. Pelos traços e pela pele escura do menino, todos deduziram que ele era um cigano e o Sr. Earnshaw lhe deu o nome de um filho seu que havia nascido morto: Heathcliff.
A inveja tomou conta do coração de Hindley, pois, o pai preferia Heathcliff, já que ele tinha um comportamento mal. Além disso, Heathcliff logo se tornou o irmão preferido de Catherine, eles cavalgavam juntos e compartilhavam seu amor pelo vento, pela liberdade, por aquele lugar...
Segundo Ellen, ela e Hindley aplicavam castigos no pequeno cigano longe do Sr. Earnshaw. Eles pensavam que não era uma criança vingativa. Mais tarde eles saberiam o quanto estavam errados.
O tempo passou e Hindley foi estudar fora, enquanto Heathcliff e Catherine ficavam cada vez mais próximos, e o estado de saúde do Sr. Earnshaw piorava. Quando seu pai morreu, Hindley voltou para casa, trazendo com ele sua esposa, que ninguém conhecia Francis.
Com a morte do Sr. Earnshaw, Heathcliff perdeu seu protetor e Hindley ficou livre para executar sua vingança contra o irmão adotivo. Ele logo tratou de rebaixá-lo à condição de empregado, impedindo-o de estudar, e fazendo trabalhar sempre. Para isso, mandou o jovem morar no celeiro da propriedade.
Heathcliff cresceu rústico, com uma personalidade transtornada pelo ódio e pela opressão. Embora Hindley conseguisse destruir muita coisa na vida de Heathcliff, ele não conseguiu separa-lo de Catherine e a afeição se transformava cada vez mais num amor obsessivo.
Conforme o tempo passa, Catherine expressa uma personalidade que não condiz com uma menina da alta sociedade. Ela passa os dias ao lado de Heathcliff, brincando e correndo pelo Morro dos Ventos Uivantes. Certo dia, eles resolveram ir até a Granja Thrushcross, a propriedade do Sr. Linton, que tinha dois filhos da idade de Cathy e Heathcliff. Eram eles Edgar e Isabela.
Os cães da propriedade acabaram atacando-os, Cathy se feriu e os Linton a levaram para dentro de casa. Quando Heathcliff entrou para vê-la, ele foi muito humilhado e expulso. Catherine acabou ficando alguns meses na Granja e durante esse tempo, Hindley proibiu Heathcliff de aproximar-se dela quando voltasse, pois a sua companhia era prejudicial à Catherine.
A família Linton levou Catherine de volta à sua casa e Hindley deu uma recepção para agradecer-lhes. Quando Heathcliff entrou em casa, Hindley permitiu que ele a cumprimentasse, como qualquer outro empregado. Ao tocar as mãos do amigo, Cathy fez um comentário humilhante e Heathcliff se chateou, embora ela dissesse que não era sua intenção magoá-lo. Ele percebeu que a relação dos dois não seria a mesma, pois, ela estava mudada, mais sofisticada no seu modo de vestir e agir. Embora a personalidade de Catherine ainda fosse à mesma.
Heathcliff acabou destruindo a festa de Hindley e levou uma surra por isso. Nascia o ciúme dele por Cathy e Edgar Linton, ciúme que aumentou com constantes visitas de Edgar, que geraram muitas brigas.
A essa altura, Francis, a esposa de Hindley dava a luz a Hareton, e morria no parto. Isso deixou a convivência naquela casa mais difícil ainda, pois ele não se recuperou e começou a beber muito, além de não dar a mínima atenção ao filho. Segundo Ellen, esse foi o primeiro bebê que ela deve que criar.
Certa noite, Ellen estava fazendo o bebê dormir na cozinha, enquanto todos dormiam. Ela se assustou com uma sombra que passou, mas, logo viu que era Catherine, vindo falar com ela.
Catherine lhe disse que Edgar a tinha pedido em casamento e que ela iria aceitar, embora sentisse que amava Heathcliff, que ela era o próprio Heathcliff, e ele seria seu marido se Hindley não tivesse o rebaixado tanto. Elas escutaram um barulho e Joseph, o criado da casa disse que era Heathcliff que saia correndo, fugindo.
Cathy se desesperou ao pensar que ele estava indo embora por ter ouvido o que ela dissera. Ela saiu gritando por ele, embora a noite estivesse chuvosa. Heathcliff desapareceu e Cathy ficou muito doente, a família chegou a pensar que ela não se recuperaria, até que Edgar apareceu e se casou com ela. Assim, Catherine foi morar na Granja Thrushcross levando a criada Ellen com ela.
Enquanto Catherine e Edgar viviam na granja, a situação de Hindley piorava cada vez mais. Ele jogava, bebia e contraia dívidas, deixando o filho Hareton de lado.
Três anos se passaram sem nenhuma notícia de Heathcliff, até que certo dia, Heathcliff retorna. Esse é um ponto obscuro do livro. Um pobre órfão, sem educação e recursos volta para casa rico.
Quando ele volta se hospeda no Morro dos Ventos Uivantes que, logo sendo seu, já que Hindley estava cada vez mais perdido entre contas e jogos. Heathcliff logo trata de se reaproximar de Catherine e começa a visitar sua casa na Granja. Lá ele se encontra por Isabela Linton, a irmã caçula de Edgar que se encanta com ele e provoca muitas brigas com Cathy por isso.
Heathcliff vê em Isabela um caminho para se vingar de Edgar, pois, caso ele não tivesse um herdeiro, tudo ficaria para sua irmã. Depois de uma briga com Edgar, Heathcliff é proibido de voltar a Granja, ele então foge com Isabela deixando Catherine, que estava grávida do primeiro filho com Edgar, muito doente dos nervos.
Isabela se arrepende da fuga logo que chega ao Morro dos Ventos Uivantes, pois ela percebe que o marido não a ama e só quer usá-la para destruir Edgar Linton e roubar-lhe a fortuna. Ela passa a viver em meio ao tormento e ao ódio que agora povoam aquela propriedade.
Catherine está cada vez mais doente e um dia, enquanto Edgar ia à Igreja, Heathcliff foi vê-la. Eles se despediram de forma comovente, mais deixaram claro que estavam magoados um com o outro.
Catherine falece nesse mesmo dia, que é também o dia do nascimento da sua filha, batizada também como Catherine Linton.
Ao saber da sua morte, Heathcliff entra em desespero e em frente à Ellen, roga-lhe uma praga: Catherine não descansaria enquanto ele vivesse ela estaria sempre com ele, pois ele não podia viver sem sua vida, sem o seu coração.
Nesse mesmo tempo, Isabela foge grávida de Heathcliff e Hindley morre meses após Catherine deixando Hareton para Heathcliff usar como parte da sua vingança, ele iria criá-lo da mesma forma que Hindley o criou privado de tudo que forma um ser humano.
Os anos passam e a obsessão de Heathcliff aumenta cada vez mais. A filha de Catherine e Edgar cresce sob os cuidados do pai e da sempre fiel Ellen Dean. Eles fazem com que ela não tome conhecimento dos parentes que vivem no Morro dos Ventos Uivantes. Quando o filho de Heathcliff e Isabela tinha por volta de treze anos, sua mãe falece e Edgar vai buscá-lo em Londres, onde ele sempre viveu.
O menino, batizado de Linton, fica um dia na casa do tio e deixa a jovem Catherine encantada com a idéia de ter um primo quase da mesma idade em casa. Mas essa alegria é interrompida, pois, Heathcliff quer o filho em sua casa e no dia seguinte, Ellen o leva até o Morro dos Ventos Uivantes. Ela e todos os demais percebem que Linton é um menino fraco e doente, o que faz Heathcliff não gostar dele. Acrescentando ainda, o fato de ele ter o nome do seu grande inimigo.
Um dia, quando Catherine já estava com quase dezessete anos, ela e Ellen estavam vendo alguns ninhos de passarinhos e a jovem acabou entrando sem saber, na propriedade de Heathcliff. Começava a se realizar os planos de Heathcliff . Ela se reencontrou com Linton e Heathcliff disse que era seu tio e que Edgar não gostava dele apenas pelo fato de nunca ter aceitado seu casamento com Isabela.
Nesse mesmo dia, ela conhece seu outro primo que ignorava a existência: Hareton, sempre humilhado, agora também pelo jovem Linton.
Edgar Linton diz a Catherine que a imagem que Heathcliff passou a ela era pura mentira, que ele só estava interessado e lhe tirar a fortuna e que se não fosse a sua volta, a mãe dela ainda estaria viva. A jovem promete ao pai que não verá mais ninguém daquela família.
Mais tudo foi em vão. A jovem Catherine já estava envolvida e se correspondia com Linton, chegando até a visitá-lo. Tudo isso deixava Ellen muito preocupada.
As cartas que eram enviadas para Catherine, eram escritas por Heathcliff, seu filho só as assinava. Era parte do seu plano de vingança.
A saúde de Edgar Linton piorava cada vez mais e já era certo que ele morreria da mesma forma que a irmã Isabela. A saúde do jovem Linton também estava muito precária.
Certo dia, Catherine recebeu uma carta na qual Linton dizia que estava muito mal e precisava vê-la sem falta. Ela resolve ir e mesmo contra sua vontade, Ellen a acompanha, pois, não poderia deixá-la sozinha, a mercê das maldades de Heathcliff.
Quando lá chegam, as duas percebem que Linton não está tão mal como dizia na carta e Catherine acredita que é melhor voltar logo para casa, pois, seu pai precisa mais dela no momento. É quando as duas descobrem que foi tudo uma invenção de Heathcliff e que ele pretende que o casamento de Catherine e Linton se realize logo. Ele prende as duas mulheres.
Catherine reclama com Linton, que diz que o pai quer casá-los para ficar com a fortuna de Edgar Linton. Ellen consegue escapar e chega à Granja quando o Edgar está muito mal.
Catherine só recebe permissão para sair quando se casa com Linton e se torna a Sra. Linton Heathcliff. Edgar morre desejando que Linton protegesse a jovem das maldades de Heathcliff. A partir daí, Heathcliff leva Catherine para morar com o marido, que se torna proprietário de todos os bens de Edgar Linton.
Heathcliff não permite que Ellen acompanhe Catherine e nem permite que a visite. Ela deveria ficar na Granja, pois, ele resolvera alugá-la.
Algum tempo depois do casamento, Linton morre e Heathcliff não fica nem um pouco abalado, já que foi declarado o herdeiro de todos os bens do filho. Estava completa a vingança.
Catherine desenvolve uma relação não muito amigável com o primo Hareton. Isso se deve ao fato de ele ser totalmente ignorante, não sabendo nem mesmo ler.
Nesse período aparece o inquilino, Lockwood, que foi citado no começo. Como agora já havia terminado a narração de Ellen, ele resolve visitar algumas vezes a casa da família Heathcliff. Lá ele presencia cenas horríveis. E se desilude de um desejo que lhe aflorou enquanto a criada contava a história: se casar com Catherine.
Ele resolve ir embora depois de algum tempo e só retorna um ano depois, para pagar o Sr. Heathcliff. Ao chegar novamente ao Morro dos Ventos Uivantes ele presencia uma cena de amor. Catherine beija Hareton enquanto lhe ensina a ler.
Então, a narradora Ellen entra em cena outra vez, para contar o que aconteceu no período em que ele esteve fora. Ela informa primeiramente que o Sr. Heathcliff morreu e quem toma conta das finanças agora é Catherine que vai se casar em breve com seu primo Hareton. Os dois vão morar na Granja quando isso acontecer.
Logo depois que Lockwood deixou a região, um ano atrás, Ellen foi viver no Morro dos Ventos Uivantes e lá, presenciou a aproximação de Catherine e Hareton. Também foi testemunha de fatos estranhos, que aconteceram pouco antes da morte de Heathcliff. Ele saía todas as noites, não se alimentava bem e as vezes perguntava se não tinha mais alguém naquela casa, além dos moradores de sempre.
Ellen teve então idéias mirabolantes, entre elas a de que Heathcliff era uma vampiro. Isso foi logo descartado, pois, ela o acompanhou em sua infância. Mas, como explicar quem eram seus pais, a origem daquele menino órfão trazido para casa pelo Sr. Earnshaw e que se tornaria motivo da ruína daquela família?
Um dia, Heathcliff disse à Ellen que era uma luta muito grande e ele gostaria que terminasse logo.
Pouco tempo depois, Ellen o encontrou morto em seu quarto. Ele foi sepultado no lugar que sempre desejou: ao lado de Catherine, onde também estava Edgar Linton. Segundo Ellen, muitos diziam que viam Heathcliff em torno do Morro dos Ventos Uivantes com Catherine, deixando com que na morte, se realizasse o amor que a sociedade não permitiu. Ellen mesmo estava com medo de viver naquela casa, pois, diziam que os dois também estavam nela ou ao seu redor. Quando acontecesse o casamento de Catherine e Hareton, ela iria viver com eles na Granja. Só o criado Joseph ficaria ocupando apenas um cômodo do Morro dos Ventos Uivantes.
O Sr. Lockwood se despediu então, do Morro dos Ventos Uivantes, olhando os túmulos e acreditando que ninguém ousaria atrapalhar a paz que reinava agora naquele lugar.
Essa é a estranha história de amor entre Heathcliff e Catherine. Um amor que se tornou obsessão e destruiu a todos que o tocaram.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Wuthering Heights

Este vídeo apresenta uma canção muito popular nos anos setenta..."Wuthering Heights" da cantora inglesa Kate Bush.
Na tradução percebemos que a letra é uma declaração de Catherine ao seu amor, portanto, a música diz muito sobre o romance na qual é baseada.